Belo Monte, a terceira invasão do Rio Xingu

Ao amanhecer, o patrão disparou contra o líder da aldeia e começou o tiroteio. “A floresta tremeu” e os índios fugiram, deixando seus mortos. Apenas uma menina ficou. Cravou os dentes com tanta força no peito de um atacante que precisou ser degolada.

A reportagem é de Mario Osava, da IPS, e publicada pela Agência Envolverde, 28-06-2010.

Cinco décadas depois, Benedito dos Santos recorda as batalhas das quais participou como um dos seringueiros que invadiram, desde o final do Século XIX, as florestas da Bacia do Rio Xingu, na Amazônia oriental, enfrentando a resistência de alguns grupos indígenas e convivendo e se misturando com outros.

Aos 67 anos, com 23 filhos dos 26 que teve com 14 mulheres, “Bião”, como é conhecido, trabalha de barqueiro na empresa familiar que tem, com oito embarcações e um atracadouro no centro de Altamira, a principal cidade às margens do Xingu, com cerca de cem mil habitantes. Ele viveu todos os ciclos da economia extrativista desta Bacia, desde que chegou, antes de completar cinco anos, com sua mãe já viúva e três irmãos menores, procedentes do Rio Moju, 350 quilômetros a leste, também no Estado do Pará, no Norte do Brasil.

Diante das transformações que serão causadas pela hidrelétrica de Belo Monte (que represará o Rio Xingu em dois pontos, inundando ilhas, florestas e terras agrícolas), Bião diz estar “neutro”. A decisão é dos poderosos, não importa a controvérsia entre defensores e opositores da obra, afirma. Só espera que seja gerada renda para a população local carente de emprego, e reconhece que já não tem o protagonismo de antes, quando dependia da natureza para sobreviver. (mais…)

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A definição de cor/’raça’ do IBGE, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Prof. José Eustáquio Diniz Alves
Prof. José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Já ouvi várias pessoas e pesquisadores dizendo que o Brasil nunca teve um presidente negro, mesmo sendo grande a presença de pessoas negras no conjunto da população do país. Mas outro dia um aluno me perguntou: o Lula não é um presidente negro?

Bem, para responder a esta pergunta precisamos saber o que é considerado “negro” no Brasil. A maioria dos pesquisadores brasileiros constróem a classificação de negro com base nos dados de cor da pele pesquisados pelo IBGE. O negro seria a soma das pessoas que se auto declaram “pardas” e “pretas”.

Não se trata, portanto, de uma classificação biológica ou física com base no genótipo. Pardos e pretos são categorias de classificação da cor da pele tomadas a partir da auto identificação da pessoa que responde a pergunta do IBGE. Assim, um entrevistador pode achar que a cor da pele de uma pessoa é preta, mas o próprio entrevistado pode se achar da cor parda ou branca.

É o que aconteceu a pouco tempo atrás com o jogador Ronaldo que se declarou da cor branca, enquanto o seus pais disseram que ele era pardo. Evidentemente, pode ser mais uma dificuldade que o “fenômeno” tem em distinguir “cores” e “formas”, mas a auto declaração de cor da pele reflete o sentimento e o desejo da pessoa no momento da entrevista e, se ele se diz branco, é como branco que ele deve ser classificado. Recentemente, questionado, no meio de uma conversa, se já foi vítima de preconceito racial, Neymar – o jovem jogador do Santos – respondeu, de bate pronto: “Nunca. Nem dentro, nem fora do campo. Até porque não sou preto, né?” (mais…)

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