Incêndios em favelas: a política de higienização

Cristina P. Rodrigues

Aparentemente, só favela paulistana faz gato de energia elétrica. Afinal, esse é o motivo atribuído a 70% dos incêndios que vêm acontecendo, segundo a GloboNews. Essa foi a 32ª ocorrência na capital paulista este ano. Em 2011, foram 79 e, em 2008, ano que mais sacrificou moradores pobres, foram 130

Na matéria da Agência Brasil, aparece ainda o “tempo bastante seco e o vento” como causas do incêndio, relatadas por um coronel do Corpo de Bombeiros. O engraçado é que os dias não têm estado muito secos em São Paulo, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ontem à noite, a umidade relativa do ar era de 76%, parecida com a de Porto Alegre. Há regiões no país bem mais secas e que não chamam a atenção pela quantidade de incêndios. Brasília, com seus mais de 2,5 milhões de habitantes, é sempre lembrada pela baixa umidade do ar. Hoje à tarde, estava em 20%. São Paulo, ao contrário, registrava 67%, ainda mais que a geralmente úmida Porto Alegre, com 49%.

Qual é a explicação então?

Ao contrário de um post que publiquei aqui em dezembro de 2009, preocupada com a disseminação de incêndios nas áreas mais pobres da capital paulista, mas contida em meus comentários, agora falo, sim, na execução de uma política de higienização. Qual a forma mais fácil e rápida de diminuir os pobres de uma cidade? Não é incomum ouvir comentários conservadores de que “tem que pôr fogo em tudo mesmo”. Vale pra morador de rua, maconheiro, marginalizados em geral. Uma política simplista, tão elitista e preconceituosa que é feita na surdina em São Paulo.

Prova de que a coisa é feia mesmo é que já tem até CPI pra investigar os suspeitíssimos casos recorrentes de destruição de favelas pelo fogo, embora ela não seja muito ativa.

Em história tão cheia de fatos inquietantes, outra coisa me chamou a atenção. Em todas as matérias sobre o último incêndio, na Zona Sul paulistana, a Folha.com não dá as razões do desastre, mas se preocupa em dizer repetidamente que o número de ocorrências de 2011 é o mais baixo desde 2008, como se isso fosse bom. Se 79 incêndios em um ano é um número baixo, o que sobra para os 130 de três anos antes?

O importante é observar que há uma sequência no processo de higienização de favelas em São Paulo, que ele é contínuo e que é devastador. É o resultado de uma história de conservadorismo extremo no comando da capital, só interrompido em dois momentos e aprofundado nos últimos sete anos, com a sucessão de governos do PSDB.

Incêndios em favelas: a política de higienização do PSDB

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