Uma das pessoas que pensam em voltar para a casa condenada pela Defesa Civil é a merendeira Cristina Silva, de 33 anos. Ela está abrigada com o marido e os três filhos no quartel da 3ª Brigada de Infantaria do Exército, em São Gonçalo (município vizinho de Niterói). Ela disse que já recebeu duas parcelas do aluguel social , mas não consegue encontrar um imóvel para alugar. Uma dificuldade que aumenta com a exigência dos proprietários que, para fechar contrato, costumam exigir pagamento antecipado de um valor equivalente a três meses de aluguel. “A gente vai ter que sair [do abrigo] dentro de um mês. Se eu não arrumei casa para alugar nesses três meses, como é que eu vou arrumar uma casa em um mês? Vou acabar tendo que voltar para minha casa”, disse resignada.
Veridiana Fonseca, de 39 anos, está abrigada com três filhos e dois netos no mesmo quartel. Ela reclama que não consegue encontrar proprietários de imóveis que aceitem o aluguel social como pagamento. “Se eles [locadores] sabem que é aluguel social, não alugam. Porque, assim como a gente, eles não sabem se esse aluguel vai continuar sendo pago por muito tempo”, disse Veridiana, que depende do abrigo público por não ter parentes no estado do Rio.
A dificuldade em encontrar imóveis para alugar está sendo um fator decisivo para que Laudicéa Andrade de Oliveira, de 23 anos, e a filha dela, de seis, voltem a morar na antiga casa no Morro do Céu, condenada pela Defesa Civil depois dos temporais de abril. A comunidade onde Laudicéa morava, em Viçoso Jardim, foi atingida por um grande deslizamento de terra que soterrou dezenas de casas. “Não me importam as chuvas. O que me importa é que eu vou estar na minha casa”.
A reportagem da Agência Brasil visitou o Morro do Céu e constatou que algumas famílias já voltaram para suas casas, mesmo interditadas pela Defesa Civil. Outras sequer deixaram o local, apesar dos riscos de desabamento de casas e deslizamento de encostas. A pensionista Ivanir Figueira Neves, de 64 anos, mora na beira de um precipício que se formou após os deslizamentos de de abril. Ela foi orientada pela Defesa Civil para deixar a residência interditada. Mas ela disse que, apesar dos riscos que corre, não sairá da casa que comprou “com sacrifício” por R$ 2 mil, há dois anos. “Eu não tenho para onde ir. Não tenho condições. Estou no maior perigo aqui. Quando chove, não durmo. Saio de casa e fico no quintal, rodando igual a uma doida”.
Segundo a prefeitura de Niterói, 3 mil famílias estão recebendo, desde maio, o aluguel social. Ainda de acordo com a prefeitura, todas as famílias cadastradas no aluguel social receberão o benefício até que possam se mudar para casas novas. Cerca de 3 mil novas unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, deverão ser construídas no município e atenderão, prioritariamente, quem vive em áreas de risco.
Reportagem de Vitor Abdala, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 13/07/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/07/13/sem-opcoes-desabrigados-de-niteroi-voltam-a-morar-nas-areas-condenadas-pela-defesa-civil/