O cientista político Luís Fernando Amstalden fala da miscigenação étnica e da adaptação dos coreanos e chineses em Piracicaba
Erick Tedesco
A imigração coreana é uma realidade em Piracicaba. Não apenas devido à instalação da montadora Hyundai no pólo automotivo da cidade, que consequentemente trará pessoas da Coréia do Sul para trabalhar na fábrica, mas também porque existe um processo imigratório crescente, desde a década de 70, de orientais ao Brasil. O que atualmente acontece em Piracicaba em relação aos coreanos, também aconteceu há décadas com chineses, donos de muitos estabelecimentos comerciais na área central.
Conviver em harmonia com estrangeiros é inevitável e também necessário para evitar eventos xenófobos. Para o cientista político Luís Fernando Amstalden, professor de sociologia da Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP), é interessante oferecer educação formal sobre fatores sociais, políticos e econômicos do Brasil para os coreanos e chineses. “Além do espírito livre, afinal, não queremos – e não podemos – ter problemas”, afirma.
A xenofobia, explica o cientista político, é recorrente quando um indivíduo se sente inseguro em relação a um estrangeiro. “Numa sociedade que tem a experiência de conviver com pessoas de outro país, o sentimento de perda de espaço físico aflora. O novo traz insegurança.”
No caso de Piracicaba, Amstalden lembra que os estabelecimentos dos principais corredores comerciais da cidade, por décadas, pertenceram a uma mesma família, e famílias tradicionais piracicabanas, mas que hoje dividem a atenção e concorrência com os imigrantes. “O estranhamento, num primeiro momento, é normal, e é preciso desconstruir estereótipos, a imagem pré-fabricada que o brasileiro tem do coreano e chinês e vice-versa”, afirma.
O cientista político chama este processo de choque cultural. “São costumes diferentes. Existe, então, uma distância por códigos. O que é educado para um, nem sempre é para o outro”. Amstalden comenta que a rispidez de coreanos e chineses é, sim, cultural. “São sociedades hierarquizadas. É natural, numa empresa de lá, o patrão chamar a atenção do subalterno de forma ríspida, o que é ofensivo para os brasileiros.”
Enquanto a introdução de coreanos e chineses à economia piracicaba é “fato consumado”, ressalta, é preciso encontrar um ponto de contato entre ambas as culturas. “Até mesmo para a segurança de todos”, comenta. O cientista político acredita que o equilíbrio pode ser atingido por meio do contato, da convivência com respeito e educação. “Eles precisam saber o que de fato é o Brasil, em quais condições sociais e econômicas vivemos.”
Ele ainda afirma que o brasileiro absorve mais facilmente elementos de outras culturas, o que não é uma regra universal, ou seja, a adaptação ao outro, num mesmo ambiente, difere de cultura para cultura. “Por exemplo, o brasileiro adaptou artes marciais japonesas e criou o jiu jitsu. Creio que irão absorver algo dos coreanos, mas é um processo lento.”
Entretanto, ele alerta que a xenofobia no Brasil é irrisória se comparada a certos países europeus e aos Estados Unidos. “Mas, é claro, se alguém for vítima de preconceito, deve denunciar à polícia”, comenta especialmente devido a um caso ocorrido na semana passada com uma mulher da raça negra. Ela se sentiu ofendida pelo modo que um comerciante chinês a tratou e levou o caso à delegacia de polícia. Amstalden questiona se estes imigrantes chineses ou coreanos conhecem o rigor da lei brasileira. “O racismo é tratado com rigidez no Brasil.”
Quanto ao entrave linguístico, o cientista opina que imigrantes precisam aprender o português e não concorda com o costume de falar na língua nativa quando um brasileiro está perto e não querem que entenda o que falam entre eles. “Mas isso não é xenofobia”, comenta.
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