Cimi Regional Mato Grosso do Sul
Na ultima quarta feira, dia 22 de outubro de 2014, momentos depois que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) trouxe a publico a denúncia de promessas de despejo e práticas de coação direta acometidas contra os indígenas Guarani-Kaiowá de Satiago KueKurupi por parte de pistoleiros e fazendeiros locais, uma nova cena absurda de violência foi praticada contra a comunidade indígena.
Em telefonemas e através de cartas entregues a um missionário, foi relatado pelos indígenas a tentativa de sequestro de Ivo Martins Tupã’Y, ancião da comunidade que após ter sofrido derrame ficou paralítico. Ivo não consegue falar e se movimenta com extrema dificuldade quando longe de sua cadeira de rodas. O filho e a mulher de Ivo são importantes lideranças de Santiago KueKurupi.
Dos Fatos:
As cerca de 13 famílias da retomada de Santiago KueKurupi ocupam hoje um pequeno recorte de mato próximo à BR – 163, nas imediações do município de Naviraí – MS. Uma das bordas do mato ocupado pelos indígenas faz divisa direta com o interior de uma fazenda conhecida como Tejuí.
Os indígenas relatam que Ivo encontrava-se sentado em sua cadeira de rodas na parte do fundo do mato enquanto sua esposa construía um pequeno barraco a poucos metros do local.
Ao escutar barulhos identificados como o de um veículo que se aproximava silenciosamente de onde Ivo estava, a mulher retornou em justo tempo de ver o idoso sendo levado por um “funcionário” que partia em direção até onde estava parada uma caminhonete. Segundo relato dos indígenas e expresso em carta assinada por eles, o fazendeiro Miguel Alexandre, proprietário da fazenda Tejuí, participou diretamente da ação. Ele dirigia a caminhonete.
Com os gritos de socorro da mulher, os jovens correram enquanto Ivo era largado no interior do veículo. Houve um prenúncio de conflito. Os indígenas, aproveitando que o automóvel teve dificuldade de se movimentar em terreno acidentado, conseguiram quebrar o vidro traseiro da caminhonete, por onde um jovem puxou Ivo. O funcionário teria tentado sacar um revólver, mas com a aproximação de muitos indígenas optou por entrar no veículo. A caminhonete conseguiu finalmente arrancar, quase atropelando membros da comunidade, e sumiu por entre os arbustos até o terreno que dá acesso a fazenda.
A violência direta contra indígenas em Santiago KueKurupi é pratica antiga dos fazendeiros da região e já é a tempos de conhecimento das autoridades e dos órgãos responsáveis por garantir a segurança dos indígenas. Nos relatos orais colhidos junto aos idosos da comunidade, assassinatos, tortura e despejos a tiros estão presentes na memória coletiva dos entrevistados, sem exceção.
Ainda em 2011, Enio Martin, indígena de 19 anos, denunciou ao MPF agressões sofridas por ele e demais membros da comunidade pelos pistoleiros, porém nenhuma providência foi tomada, nem naquele momento, nem depois.
O Conselho Indigenista Missionário volta a denunciar as práticas de violência acometidas contra a comunidade Indígena de Santiago KueKurupi, a omissão do governo e dos órgãos responsáveis por garantir a segurança dos indígenas bem como o esquema de paralisação das demarcações indígenas, que potencializa exponencialmente a violência contra os povos originários.
Enquanto a influência ruralista se espalha institucionalmente pelas esferas Executiva, Legislativa e Judiciária, provocando retaliações graves aos direitos constitucionais dos povos originários, a nível local a violência direta por parte dos fazendeiros e pistoleiros se manifesta de maneira cada vez mais absurda e covarde. E assim os povos indígenas são penalizados pelo seu direito básico e inevitável de resistir em sua terra e buscar a mínima possibilidade de viver e de existir.
Veja aqui a carta relatando a tentativa de sequestro de Ivo Martins Tupã’Y.