Ian Waldron – Rio On Watch
O primeiro grande ato de resistência da Vila União de Curicica, comunidade que fica no caminho do planejado corredor da BRT TransOlímpica, foi realizado no dia 27 de setembro. A comunidade, antes destinado a receber urbanização através do programa Morar Carioca, agora será removida para dar espaço à construção do corredor da TransOlímpica, linha de norte à sul, de Deodoro à Barra da Tijuca.
Os moradores se reuniram em frente ao Bar do Divino, às 10h, e caminharam até chegar à rota existente do BRT na Estrada dos Bandeirantes. Houve um encontro pacífico, porém intenso, entre manifestantes e passageiros dos ônibus do BRT que passavam e que podiam ser vistos pelos vidros escuros em seus assentos se contornando para observar o que acontecia.
A mobilização da Vila União teve um início tardio, em parte devido ao fato que a comunidade foi enganada sobre seu futuro pela administração do Prefeito Eduardo Paes, mas também devido à falta de engajamento para questionar as remoções pela associação de moradores. A resistência foi então organizada por um pequeno grupo de moradores que dizem que não foram consultados e suas vozes não foram escutadas. Robson, de 37 anos e pai de dois filhos, é um dos líderes do movimento. Ele disse à TV Record: “Nós não estamos pedindo nada além da lei, estamos pedindo o que é justo”.
Manifestantes em cima de um caminhão com um megafone encorajaram moradores a sair de casa e se juntarem ao protesto. No entanto, os manifestantes sentiram um certo receio da parte da maioria dos espectadores, que assistiam com medo da repercussão em participar da resistência. Apesar da evidência contrária, por toda a cidade nos últimos anos, muitos acreditam que ao lutar contra a remoção a chance de receberem uma compensação justa por sua casa será colocada em risco, quando o resultado é mais comum.
Muitos dos que se manifestaram no sábado moram na Vila União por quase 30 anos, desde que foi fundada. Jonas Soares, parte desse grupo de moradores, disse que: “desde o início, a associação não tem ajudado a gente, tem ajudado a prefeitura a remover todo mundo”.
Raquel, irmã de Jonas, é um exemplo daqueles dos quais o sustento está estritamente ligado à comunidade. Ela têm três lojas na área.
“No condomínio é tudo residencial. O que vou fazer com só um apartamento e sem nenhuma renda das minhas lojas?”, ela pergunta. Jorge, morador de longa data de 29 anos, tipifica aqueles que simplesmente querem uma compensação justa por ser forçado a sair. Sua casa atual na Vila União tem 150m2, enquanto os apartamentos na Colônia Juliano Moreira, para onde os moradores serão realocados, tem apenas 38.
Outra moradora, Luíza, que também mora na Vila União há 30 anos, explicou porque a participação na resistência está sendo limitada: “Por que a maioria dos moradores não vêm? Eles não vêm protestarporque estão com medo, porque eles ouviram falar que se eles participassem do protesto acabariam sem casas–acham que acabarão nas ruas. É falta de informação”, ela concluiu.
Esse sentimento deixou muitos hesitantes em falar sobre a situação publicamente. Assim como para a Raquel, o reassentamento no novo apartamento cria problemas para Luíza: “Meu filho vai se casar e ia construir sua casa em cima da minha. Não podemos mais fazer isso porque vamos embora, isso mudou nossos planos para o futuro”.
A deputada estadual Janira Rocha, também presente, discursou durante o protesto. Ela disse que “o número de participantes hoje não reflete o consenso que existe em grande parte da comunidade”. Como alguns moradores, ela atribuiu isso à um medo generalizado das milícias na área entre os moradores, que têm sido um fenômeno cada vez mais preocupante na última década. As milícias estão muitas vezes envolvidas com os representantes locais e estaduais, e Janira afirmou que “o governo usa esse medo politicamente, para impedir a mobilização da comunidade”, possibilitando executar projetos mais facilmente.
Mais amplamente, os manifestantes ecoaram as mesmas acusações que foram ouvidas na Vila Autódromo: que o governo está intimamente alinhado com os corretores imobiliários e se uniram para sistematicamente remover as favelas da área de Jacarepaguá, essencialmente usando as Olimpíadas de 2016 como alavancagem para a posse de terras. De fato, a área tem cada vez mais sido chamada de “Norte Barra”, o bairro que lembra Miami e fornece grande parte da base financeira e votos para o Prefeito Eduardo Paes.