Por Associação Ka’apor Ta Hury do Rio Gurupi*
Estamos há 1 ano e [alguns] meses em atividades de monitoramento territorial e ambiental indígena na TI Alto Turiaçu, há 05 meses realizando o Etnomapemento da área com cerca de 80 jovens e adultos Ka’apor. Cerca de 70% do território indígena foi fechado para agressões à floresta. Resta apenas uma parte a ser fechada onde se concentram uma estrutura pesada de madeireiros e serrarias que saíram de Paragominas, Pará, Centro-Oeste maranhense e do entorno da TI Awá (recentemente desintrusada).
Os Ka’apor e demais povos indígenas no Brasil estão dando para o Estado Brasileiro uma verdadeira demonstração de autonomia e comprovando a falta de compromisso e inoperância dos órgãos públicos que deveriam resguardar e proteger os territórios indígenas e instituições cientificas que deveriam apoiar e colocar os saberes coletados, muitas vezes, sem anuência desses povos a serviço de sua proteção.
A cada dia os Ka’apor vêm maturamente exercendo essa autonomia que lhes está custando agressões, tiros, intimidações, ameaças, perseguições na cidade, entre outros. Esses últimos três dias realizaram uma missão na floresta com cerca de 90 pessoas, em sua maioria jovens. Apreenderam armas, motosserras, motocicletas, caminhões, tratores esteiras. Chegaram a prender, soltando as pessoas posteriormente, haja vista, nenhum órgão agir em prol dessa população indígena.
Existe uma determinação judicial que está para vencer no final deste mês, onde a Funai deveria criar Postos de fiscalização e vigilância com a anuência e participação dos indígenas e, até o presente momento, nada feito.
Essa noite, dois grupos de madeireiros em dois municípios da região se juntaram e estão ameaçando invadir duas aldeias da Terra Indígena nos municípios de Nova Olinda do Maranhão e Santa Luzia do Paruá. Lembrando que existe apenas uma entrada de agressores no território, que se faz pelo município de Centro do Guilherme com conivência do executivo municipal.
Solicito a todos e todas que divulguem essas informações. Pois, existem grupos de indígenas armados em pontos da Terra Indígena, podendo acontecer conflitos. Percebe-se uma união dos agressores que vivem cercando e intimidando indígenas. Todos os donos de serrarias e madeireiros da região possuem fazendas. Lembrando que se trata da última e maior área indígena remanescente de floresta amazônica na Amazonia Oriental. Sem contar a TI Awá e REBIO Gurupi, devastadas por fazendeiros e madeireiros, mas desintrusada em fase de proteção.
É urgente que divulguem esse fato, sem contar que a qualquer momento podemos ter notícias preocupantes sobre a realidade imposta aos Ka’apor.
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*Enviado para a lista do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) por István van Deursen Varga, que o recebeu através do Cimi Maranhão, mas ratifica: “Vimos acompanhando a luta dos Ka’apor. A situação é muito grave, o conflito iminente. É preciso sacudir, desaprisionar esse aparelho de Estado, fazê-lo funcionar!!”.
Se você está se referindo, como suponho, aos Ka’apor, Myriam, penso que o máximo possível que possa ser dado em termos de divulgação e denúncia pode fazer toda a diferença para eles. Inclusive exigindo que o governo brasileiro cumpra a Constituição, para início de conversa.
Tania.
VCs tem apoio internacional? Ha algo que se poss afaer por vcs nos EUA?
São vidas em jogo, além da ameaça de desaparecimento de toda uma cultura, dos donos originais do Brasil. Os verdadeiros donos que tiveram usurpados seus direitos a terra. Lamentável.
É um absurdo o governo não cumprir sua função de proteger e apoiar as nações indígenas
Polícia Federal, onde estás?