MPF/GO acompanha escavações na busca de evidências sobre remoção de corpos de militantes

montagem-Maria Augusta e MarcioMaria Augusta Thomaz e Márcio Beck, militantes do Movimento de Libertação Popular (Molipo), foram assassinados numa operação militar em 17 de maio de 1973 na Fazenda Rio Doce, em Rio Verde, sudoeste de Goiás

Uma equipe formada por representantes do Ministério Público Federal (MPF/GO), por pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e por peritos do Instituto Médico Legal (IML-DF) e da Polícia Federal (PF) iniciou os trabalhos de escavações, na última quarta-feira, 26 de fevereiro, na Fazenda Rio Doce, em Rio Verde (GO), em busca de evidências sobre a remoção dos corpos de Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck. Os dois eram militantes do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e foram assassinados na localidade numa operação militar em 17 de maio de 1973.

Buscando a recuperação de evidências dos restos mortais ou de vestimentas dos dois militantes e a comprovação da ocorrência da ‘operação limpeza’ em 1980, a equipe realiza nesta semana escaneamento por meio de radar de solo (GPR) da região e escavação no local onde os corpos foram enterrados em 1973.

Em setembro de 2013, a CNV e o MPF/GO estiveram em Rio Verde e cidades vizinhas para colher depoimentos de pessoas fundamentais para o caso, como Epaminondas Pereira do Nascimento, ex-capitão da PM que exercia a função de delegado de polícia em Rio Verde em 1973, que foi ouvido na cidade de Alvorada do Norte (GO); Eurípedes João da Silva, caseiro da fazenda que participou do enterro de 1973; Vicente Guerra, médico que foi levado à fazenda para analisar a cena do crime; Margarida Alair Cabral Faria e Pedro Bonifácio de Faria, filha e genro de Sebastião Cabral, dono da propriedade.

Na diligência, Guerra relatou que houve um cerco à casa e foi usado armamento pesado pelas forças da repressão; um obus derrubou uma das paredes do casebre onde estavam os militantes.

Durante os depoimentos, Eurípedes, Margarida e Pedro confirmaram que o caseiro, o dono da fazenda e mais duas pessoas foram obrigados pelo então delegado da PM Epaminondas a enterrar os corpos de Maria Augusta e Beck em uma vala clandestina dentro da fazenda.

Operação Limpeza – Em 1980, quando familiares de Maria Augusta e jornalistas promoviam investigações para localizar os corpos em Rio Verde, os restos mortais foram desenterrados da propriedade rural e levados para um local desconhecido, por uma equipe federal. O trabalho foi apressado e alguns dentes e pequenos fragmentos de ossos ficaram na fazenda, tendo sido, após, encontrados e entregues para perícia, bem como alguns dos cartuchos de projéteis de arma de fogo. O material ainda não foi localizado nos arquivos da Justiça Estadual de Goiás.

Em dezembro do ano passado, o MPF/GO denunciou o ex-delegado Epaminondas Nascimento pelo crime de ocultação dos cadáveres dos militantes da Molipo. Na ação apresentada à Justiça Federal de Rio Verde, o procurador da República Wilson Rocha Assis disse ter ficado comprovado que Epaminondas, com o objetivo de favorecer a impunidade pelos homicídios do casal, agiu com abuso de poder e violou o dever inerente ao cargo ao atuar na ocultação dos corpos de Maria Augusta e Márcio Beck.

Em documento do Serviço Nacional de Informações (SNI), localizado pela CNV no Arquivo Nacional, há informações de que o SNI temia que autoridades e policiais militares conhecedores do enterro e da operação limpeza poderiam passar informações para a imprensa e para a Justiça.

Clique aqui e leia a denúncia oferecida pelo MPF em dezembro de 2013.

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