Por Tereza Amaral com Joeser Alvarez, em Amazônia Legal
O que os indígenas suspeitos de terem assassinado Stef Pinheiro, Luciano Freire e Aldeney Ribeiro têm a ver com o cacique Payakan? Tudo. Mais de duas décadas depois do caso envolvendo a liderança Kayapó e sua mulher em um estupro, o tratamento dado, sobretudo por portais sensacionalistas, é semelhante: barbarização.
Em junho de 1992, a revista Veja, à época ainda bastante conceituada, acusou logo na capa o cacique Paulinho Payakan com ‘O Selvagem’, em plena Eco 92. Na matéria com manchete de página ‘A Explosão do Instinto Selvagem’, acompanhada do subtítulo ‘Payakan, o cacique símbolo da pureza ecológica, estupra e tortura uma adolescente’, a revista condena a segunda maior liderança Kayapó depois de Raoni.
Todos os prêmios – Global da ONU, Diploma da Sociedade por um Mundo Melhor -, dentre outros, foram desmerecidos nas palavras duras e acusatórias da Veja que, em momento algum, escreveu uma única frase do cacique.
No caso Tenharim, e em época digital, os indígenas estão sendo igualmente massacrados. Antes mesmo da Polícia Federal informar sobre a identificação dos corpos dos três desaparecidos, ontem, primeiro foram massacrados e queimados vivos junto com o carro (pelos portais, Alexandre Garcia e “furo” do Questão Indígena), depois foram degolados, cortados com motoserra, jogados no rio e, por último, executados a tiros.
O que realmente houve desde o momento em que supostamente os indígenas e os três rapazes teriam se encontrado, até que os índios o digam ninguém sabe, nem a própria polícia. Mas a Casa do Índio (Funai), um barco e vários carros em Humaitá foram depredados e incendiados, uma aldeia também foi alvo de ataques e incêndios enquanto que, nas redes sociais, páginas, como a do Portal Apuí, permitiam a publicação de manifestações racistas que incitavam a população à violência. O dono do Portal? Um jornalista correspondente da TV Globo no Amazonas.
Na esteira dessa música, vale ressaltar que orquestrada pelo ouvido, juntou-se o Estadão, declarando que as aldeias estavam em guerra, sem ouvir nenhuma liderança, deixando os indígenas espantados, pois ficaram sabendo que estavam em guerra, pasmem, pelo jornal.
É de se esperar que, no desenrolar desse caso, a mídia em sua competição desenfreada pela audiência carregue ainda mais nas tintas da violência sensacionalista, inclusive a Veja, que não causará espanto se for publicada com algumas gotas de sangue na capa…a conferir!