Por Lindomar Padilha
O tema deste post tem sido apresentado e discutido por mim em diversas oportunidades que tenho para colocá-lo em pauta. Para nós da Amazônia, a questão do petróleo é particularmente preocupante por causa da grande variedade de vidas, matas e água que temos. Os governos inescrupulosos e a serviço de seus próprios interesses e do interesse do capitalismo verde, ou eco-capitalismo, baseado na exploração irracional dos recursos naturais, que chamam cinicamente de “desenvolvimento sustentável”, tem olhado para a nossa região com cifrões nos olhos.
O que nós enxergamos como vida e fonte do “bem viver” para todos, eles enxergam como uma conta bancária de onde poderão retirar seus dólares e impor a morte de milhares de vidas. Portanto, o debate não é se há ou não petróleo na Amazônia. O debate é se é justo e saudável a todos nós e ao planeta utilizarmos esses recursos indiscriminadamente. Será que vale a pena? seríamos capazes de sobreviver nos alimentando apenas dos “verdes dólares manchados de sangue”?
A partir do ano de 1999, com a eleição de Jorge Viana para o governo do Estado do Acre, começou a nossa guerra contra a exploração de petróleo, gás xisto e as pesquisas e lavras de outros minerais, entre os quais a chamada “terra rara”. Um dos focos principais dos eco-capitalistas era, então, a região do PNSD – Parque Nacional da Serra do Divisor. Nós, à época, denunciamos a violência que estava em curso, especialmente contra os moradores do parque e os povos indígenas, especialmente os Naua (Nawa) e os Nukini. Os Naua porque tinham toda a sua terra tomada literalmente pelo projeto de exploração mineral, ou se preferirem, pelo Parque Nacional, criado aparentemente para garantir tal exploração. Os Nukini, porque também tiveram parte significativa de seu território igualmente roubado para o mesmo fim.
Fato é que já em 2000 o Cimi conseguiu dar visibilidade ao povo Naua, e daí começaram os debates e discussões sobre um tema que o governo e ONGs internacionais não queriam que viesse à tona. No rastro do reconhecimento do povo indígena Naua, veio a luta pelo reconhecimento da aldeia Kampô, do povo indígena Nukini e iniciou-se ainda uma luta pela manutenção das famílias não indígenas que habitavam (e habitam ainda) o PNSD.
Naquela época o governo, que já tinha claro os verdadeiros interesses na região, jogou pesado e se utilizou do discurso preservacionista contra aquelas famílias que teimavam em continuar lá na área do PNSD. Para isso o governo se empenhou em organizar um levantamento das famílias para que elas fossem “indenizadas” e deixassem a área. O levantamento ficou a critério do IBAMA que contou com o importante apoio da ONG SOS Amazônia. Não analiso aqui ou afirmo se a SOS estava ou não ciente dos interesses do governo e das ONGs internacionais aliadas ao chamado “mercado verde”. Só narro os fatos a partir do local de onde eu observava. No fundo, e isso devo dizer, eu acho que a SOS foi somente usada. Mas, como nunca se manifestou no sentido de questionar as intenções do mercado verde, aguardarei o tempo para que a história nos diga.
De lá para cá a disputa tem continuado e o governo, com suas ONGs, não tem medido esforços para nos atacar e tentar desqualificar. O enfrentamento segue, apesar de imensamente desigual. Deste lado estamos nós, um grupo de militantes, pesquisadores, indigenistas cientistas políticos, todos engajados na luta em defesa do meio ambiente e das comunidades habitantes das florestas e, no fundo, defensores de todos os que vivem neste pequeno planeta, nossa “casa comum” chamado terra. Do outro lado, com poderes imensamente maiores estão o Governo, ONGs internacionais, imprensa, cientistas inescrupulosos e todo o plantel montado e sob o controle do capitalismo verde.
Sim, a luta é desigual. Um amigo me lembrava que “trata-se de uma batalha entre Davi e Golias”. Eu dizia a esse amigo que não podemos nos esquecer de quem saiu vitorioso na história bíblica.
Recentemente o governo do Acre organizou um festival de cultura entre os povos Nukini e Naua lá dentro do PNSD, nas terras destes povos. A intenção do governo novamente era a de garantir que não haverá posicionamento em contrário às suas intenções de viabilizar investimentos de empresas internacionais na exploração da área. Novamente o governo mente e oculta a verdade por trás dos fatos e tenta colocar a população contra aqueles que desejam e buscam um meio ambiente saudável e vida digna para as pessoas que sempre moraram naquela região.
A Coluna Bom Dia do Jornal A Tribuna, quase que diariamente, apresenta o mercado verde e a exploração de petróleo e gás (incluindo o gás xisto) como sendo a redenção do Acre. O que esses senhores a serviço do capital internacional não tem coragem de colocar em pauta é quantas vidas serão exterminadas para que eles, apenas eles, usufrutuem das riquezas geradas. Impérios serão construídos sobre o sangue daquela gente e de todos nós porque, afinal, somos todos nós que pagaremos a conta ao final, como sempre tem sido ao longo da história.
O momento é de somarmos forças para o enfrentamento. Conclamo a todas e todos de boa vontade a nos unirmos na defesa do meio ambiente, das comunidades tradicionais e indígenas e de todos nós. É urgente que nos posicionemos contra a sanha do capitalismo verde. Devemos ter a coragem de denunciar o que está acontecendo. O silêncio nosso será a cumplicidade que eles esperam para implantarem o reino do egoísmo e do enriquecimento ilícito. Ilícito porque sobre o sangue de inocentes.
A este respeito e para melhor orientar o debate, sugiro a leitura DESTE TEXTO.