Após tentativas de diálogos com a Secretária de Educação, Selma Mulinari, desde o primeiro dia da IV Marcha dos Povos Indígenas de Roraima (10), sendo ontem, 13, a última tentativa na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima, quando a mesma não compareceu à audiência pública, os povos indígenas decidiram não mais buscar nenhum tipo de diálogo e reivindicam a sua exoneração ou substituição.
Com a recusa da Secretária de participar da audiência pública e prestar esclarecimentos ao movimento indígena, a Governadora Suely Campos, a pedido dos representantes indígenas, realizou uma reunião no Palácio do Governo com trinta lideranças indígenas representantes de cada região, Amajari, Serra da Lua, Surumu, Serras, Baixo Cotingo, Yanomami, Raposa, Wai-Wai, Ye`kuana, Taiano e Murupu. Os parlamentares, Brito Bezerra, Evangelista Siqueira, Soldado Sampaio e Oleno Matos também acompanharam a reunião.
Durante a reunião cinco lideranças apresentaram as reivindicações do movimento indígena e priorizaram a exoneração da Secretária de Educação, Selma Mulinar, como ponto principal de reivindicação, além, da inclusão da modalidade da educação escolar indígena no Plano Estadual de Educação, excluído pela Secretaria de Educação. O Plano aguarda votação na Assembleia Legislativa do Estado.
O coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima, Mario Nicacio, após breve relato dos avanços na área da educação específica e diferenciada, sendo pioneira no Brasil, reforçou o posicionamento do movimento indígena que pedem a exoneração da Secretária. Além disso, manifestou indignação pelo desrespeito com que a Secretária vem tratando às questões indígenas do Estado e frisou que sem a abertura de diálogo não se tem avanço na educação. “Não se avança em educação, sem abertura de diálogo, por isso queremos a substituição da Secretária”.
A Vice-coordenadora da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIR), Irani Barbosa, apresentou diversos pontos de reivindicação do movimento indígena, especificamente na área da educação escolar indígena, reforçando que não é somente o termo indígena que precisa ser considerado, mas que seja respeitado na íntegra, os direitos de cada povo. Reforçou ainda que, para os alunos que participam da mobilização, o ato de manifestar, expressar, tem sido uma aula de cidadania, democracia, política e que por isso, o Estado deve atender as reivindicações.
Após ouvir as manifestações, a Governadora encaminhou que será incluído no Plano Estadual de Educação o capítulo que assegura os direitos à educação escolar indígena, encaminhamento que já é consenso com o poder legislativo, além das necessidades urgentes como material didático, nomeação de coordenadores regionais, merenda escolar e outras conforme apresentado pelo movimento indígena. Porém, a pedido de exoneração ou substituição da Secretária, permanece irredutível. Segundo a chefa executiva, o pedido de exoneração é uma condição que não irá aceitar e pediu tempo para resolver a situação do atendimento. “A exoneração é uma condição que não vou aceitar, darei um tempo para que melhores a atendimento, mas caso não se resolva, eu mesma vou determinar a sua saída.”
Apesar da maioria das demandas serem atendidas, principalmente, a proposta do Plano Estadual de Educação, o movimento indígena não recuou. Pelo contrário, agiu de forma firme e resistente continuando com a reivindicação pela exoneração da Secretária, Selma Mulinari.
A reunião terminou por volta das 19h30. Em seguida, a comissão se reuniu na tenda indígena e repassou todas as informações, inclusive a proposta de continuar ou não, com o pedido de exoneração. O movimento decidiu que irá continuar pedindo a exoneração ou substituição de Selma Mulinari, porque segundo as lideranças indígenas, não tem postura ética e nem competência para continuar no cargo.
Conforme a programação, o movimento indígena segue e um encontro com a chefa do executivo é aguardado nesta sexta-feira, 14, na tenda indígena instalada na Praça do Centro Cívico.
A IV Marcha dos Povos Indígenas, realizada em alusão ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 9 de agosto, chega ao quinto dia de intensão manifestação e articulação.
Para a realização da Marcha, os povos indígenas contam o apoio das organizações indígenas, entidades sociais e das próprias comunidades indígenas que permanecem em Boa Vista por tempo indeterminado. O resultado de participantes, somando mais de quatro mil indígenas, marca o maior número de indígenas reunidos na Marcha.
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Foto: Mayra Wapichana