Por Gil Santos, no Correio
Um adolescente de 17 anos morador da comunidade quilombola Rio dos Macacos foi agredido por marinheiros e moradores da Vila Naval da Barragem, no Complexo Naval de Aratu, no sábado. A vítima é acusada pelos militares de assediar uma jovem de 14 anos que mora na Vila e foi agredido por parentes da moça. A família do adolescente nega a versão e disse que vai procurar o Ministério Público da Bahia para prestar queixa.
De acordo com a tia do jovem agredido o crime aconteceu por volta das 9h40. Ele estava voltando da casa de um amigo acompanhado do pai, de um tio e um primo de 15 anos quando foi surpreendido por um grupo de marinheiros, na portaria que dá acesso à vila e ao quilombo.
“Eles estavam armados e partiram pra cima dele (adolescente) assim que ele passou pela portaria. Meu sobrinho se assustou e correu, mas um carro branco foi atrás e tombou nele. Quando ele caiu começaram a bater nele”, contou a mulher, que pediu para não ser identificada.
Ainda de acordo com ela, depois de cair o adolescente recebeu chutes e socos no rosto. Algumas pessoas teriam usado pedaços de pau para bater no jovem. A família aponta os militares de prenome Daniel, Everaldo e Edielson como os responsáveis pelo início do espancamento, mas afirmou que outras pessoas também participaram da ação.
Enquanto o adolescente era espancado, o pai, o tio e o primo dele foram retidos na portaria, por um grupo armado. A família não soube precisar o tempo que durou a agressão, mas contou que o jovem deu entrada no Hospital do Subúrbio às 11h. Antes, ele passou alguns minutos desaparecido.
Ele foi encontrado pela família ensanguentado e dentro de uma viatura, na portaria da Vila. “Os policiais disseram que foram chamados porque receberam a informação de que quatro homens estavam assaltando na região. Meu sobrinho contou que quando estava sendo espancado ouvia alguém dizer para matar ele. Depois ele não viu mais nada, porque desmaiou e quando acordou estava em uma poça de sangue”, contou a tia da vítima.
Lesões
O adolescente foi levado para o posto do Hospital do Subúrbio, medicado e liberado. Ele foi encaminhado junto com alguns dos agressores para a Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), em Brotas, onde o caso foi registrado. O CORREIO tentou contato com a delegacia, mas não obteve sucesso.
A vítima levou quatro pontos na cabeça, escoriações nas costelas e teve um corte no pé. Ninguém foi preso. “Quando a gente passa por lá (Vila) eles apontam e dão risada. Eles espancaram e ainda riem. Isso revolta”, afirmou a mulher.
A assessoria da Marinha informou, em nota, que o 2º Distrito Naval instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o episódio. Ainda segundo a assessoria, os militares envolvidos na confusão não estavam de serviço. A Marinha informou que uma das cancelas da Barragem foi destruída pelos moradores do quilombo.
“De acordo com as informações inicialmente colhidas, o conflito foi iniciado após integrantes da Comunidade Rio dos Macacos, aparentemente embriagados, assediarem uma adolescente residente na Vila Naval, o que teria motivado o desentendimento e posterior confronto com alguns moradores do local, que entretanto negaram qualquer agressão aos envolvidos”, diz a nota.
O caso foi registrado na sede da Polícia Federal, em Água de Menino, na manhã de segunda-feira. Segundo a assessoria da PF, a queixa foi encaminhada para a corregedoria do órgão para avaliar a necessidade da abertura de um inquérito para apurar o caso.