Christine Wilkes – Rio On Watch
A gestão de resíduos é um problema enfrentado por quase todas as favelas do Rio de Janeiro. A maior parte das comunidades sofre com serviços inadequados ou inexistentes de coleta de lixo, devido ao fato de que as agências públicas contam erroneamente o número de pessoas que ali vivem e então fornecem serviços inadequados, ou porque a coleta de lixo pode ser desafiadora para o uso dos veículos tradicionais de coleta nas ruas estreitas das favelas. Estas são algumas das razões dadas pela Comlurb, em sua resposta as necessidades de coleta de lixo em muitas comunidades. Como resultado, o lixo não coletado pode ser uma fonte de doenças, pragas e baixa qualidade de vida para os moradores.
Nascida e criada na Cidade de Deus (CDD), Iara Oliveira relembra como foi crescer quando não havia nenhum serviço de coleta de lixo. Ela diz que a comunidade “sempre foi abandonada em termos de serviços públicos”, mas os moradores agora aprenderam a lutar pelos seus direitos aos serviços. Primeiro, ela diz, eles lutaram por água, depois pela eletricidade e finalmente eles exigiram o serviço de coleta de lixo. Hoje algumas partes da Cidade de Deus recebem o serviço todos os dias, porém a comunidade ainda não possui o serviço de coleta de materiais recicláveis. Isto e a preocupação a respeito do nível de poluição no rio que corta a comunidade têm mobilizado um grupo de moradores que apaixonadamente buscam a melhoraria das condições ambientais através da educação, criação de consciência, e do incentivo aos moradores a mudarem seus hábitos.
O Eco Rede, coordenado por Iara, foi formado em 2010 como um projeto da organização comunitária Alfazendo, que vem promovendo aulas de alfabetização, pré-vestibulares, e outros serviços educacionais para os moradores da Cidade de Deus desde 1998. O Eco Rede utiliza as mesmas metodologias participativas que o Alfazendo desenvolveu, e tem foco em encontrar soluções coletivas para os desafios ambientais enfrentados pela comunidade. Usando a mesma metodologia, um outro braço da organização foi aberto no Complexo da Maré e funciona de forma similar.
O Eco Rede tem cinco objetivos: educação ambiental, comunicação, formação continuada, profissionalização dos catadores, e desenvolvimento local. Todos são destinados a melhorar o ambiente local, os níveis de saúde pública e a qualidade de vida na Cidade de Deus.
Muitos destes objetivos são atingidos através do treinamento de jovens que visitam escolas locais e ensinam aos estudantes sobre o meio ambiente, os empoderando a mudar a visão que possuem da comunidade. A cada ano, sete ou oito estudantes são selecionados e se tornam membros de uma equipe que cria suas próprias aulas e próprios objetivos. Um dos principais objetivos do Alfazendo, assim como do Eco Rede é encorajar os estudantes a ficar e contribuir com melhorias para a comunidade, ao invés de se mudarem de lá. Isto significar pedir para eles que valorizem sua comunidade e que a proteja de danos futuros. Como a estudante universitária local e facilitadora do Eco Rede Lidiane Santos Barbosa explicou:”Nós ouvimos muito sobre proteger a Floresta Amazônica, por que não tentar preservar o lugar onde você está morando?”
O Eco Rede também acredita que através do ensino para crianças, haverá impacto no estilo de vida de suas próprias famílias. Além de oferecer treinamento multidisciplinar para os estudantes, o Eco Rede também trabalha com os professores, para que mantenham a conversa após o fim do treinamento. Fora da sala de aula, o Eco Rede plantou cinco hortas nas escolas e aumentou a conscientização sobre a reciclagem ao ajudar os estudantes a criarem brinquedos criativos com materiais reutilizados. Um dos principais objetivos da horta na escola é demonstrar como os estudantes podem ter dietas saudáveis.
O objetivo mais evidente da organização é a profissionalização dos catadores, os quais coletam materiais recicláveis nas ruas e os vendem para companhias privadas. A equipe do Eco Rede os considera um importante elo para a reciclagem, já que eles preenchem uma lacuna ao escolher e coletar os materiais, os quais de outra forma, acabariam no aterro sanitário. Apesar de sua importância, os catadores tem sido um grupo social historicamente isolado e desfavorecido. Como eles são os indivíduos mais envolvidos no sistema de gestão de resíduos, a equipe do Eco Rede sentiu que seria importante engajá-los e empoderá-los a continuar a melhorar as condições ambientais na CDD de maneira mais segura e saudável. O Eco Rede também tem a esperança de mudar as atitudes do público em geral em relação aos catadores.
O primeiro passo foi contar e registrar os catadores, assim como trabalhar com eles depois. Então o Eco Rede promoveu o treinamento de 48 catadores, a respeito de seus direitos e de como ter acesso a serviços públicos. Após este passo, o Eco Rede ensinou aos moradores como selecionar os materiais recicláveis e separá-los em sacolas ao invés de deixá-lo no meio fio. Como explica Iara Oliveira, ao separar o material se atinge mais de um objetivo. Quando os moradores deixam seus lixos separados fora de suas casas, os catadores não têm mais que cavá-los dentro do lixo molhado e misturado. As condições de trabalho deles melhoraram drasticamente, enquanto os moradores somente tiveram que fazer algumas pequenas mudanças nos seus hábitos. Isto tem sido um argumento convincente na CDD. Ao descer as ruas qualquer um pode ver as sacolas de materiais separados, esperando que os catadores os venha coletar.
Mais formalmente, o Eco Rede construiu 14 “Eco Pontos” ao redor da Cidade de Deus para as pessoas deixarem seus materiais recicláveis para os catadores coletarem. Ao fazer isto, as atitudes da comunidade perante os catadores começaram a mudar. As escolas que uma vez se recusaram a deixar os catadores entrar para procurar lixo agora os recebem em sala de aula para discutir sobre reciclagem. Iara acredita que algum dia haverá um Eco Ponto em cada esquina da rua principal, em cada espaço público e na escola na comunidade.
Em outros bairros, os catadores têm se organizado em cooperativas para ganhar mais poder de barganha nas vendas e prover um lugar seguro para classificar o lixo. Isto ainda tem que acontecer na CDD, e é por isso que um dos objetivos de longo prazo do Eco Rede é conseguir o financiamento necessário para criar um espaço para a cooperativa.
Melhorar o meio ambiente na Cidade de Deus é parte de um objetivo muito maior para o desenvolvimento local. Iara Oliveira diz que seu sonho para a comunidade é que os jovens invistam em ficar ali. Ela diz: “Os jovens estão usando suas energias fora da comunidade, ao invés de dentro dela… eles tem sido educados a querer sair da comunidade”. Ela acredita que com o Alfazendo e com o Eco Rede mais jovens ficarão e ajudarão no crescimento da comunidade.
Para mais informações sobre o Eco Rede, você pode visitar sua página no Facebook ou a página do Alfazendo. Você também pode assistir o vídeo sobre educação ambiental nas escolas aqui. Se você quiser ajudá-los a alcançar seus objetivos com os Eco Pontos, na educação nas escolas, ou criando as cooperativas para os catadores, considere a possibilidade de doar um pouco de seu tempo ou recursos através da página do Eco Rede no Facebook.