Prefeitos de todo o mundo se unem contra a escravidão moderna e as mudanças climáticas

O ar que se torna irrespirável por causa da poluição e o verde que dá lugar à desertificação; o calor se torna insuportável e é seguido por temporais que parecem tempestades. Esses são alguns sinais de uma evidente e progressiva deterioração ambiental

Nicola Gori – L’Osservatore Romano* / IHU On-Line

Mas nem sempre se coloca suficientemente em evidência como as transformações climáticas estão conectadas com fenômenos como as migrações, que expõem milhões de pessoas ao risco de cair nas redes dos traficantes de seres humanos. Justamente a conexão entre mudanças climáticas e as modernas formas de escravidão está no centro do encontro que, a partir dessa terça-feira, 21, vê reunidos no Vaticano, na Aula Nova do Sínodo, prefeitos provenientes de todos os continentes.

Um encontro que tem ressonância mundial, porque, pela primeira vez, debatem sobre o assunto mais de 60 primeiros cidadãos de todo o planeta: a partir daqueles das megalópoles sul-americanas, como Buenos Aires, Cidade do México, Rio de Janeiro, São Paulo e Bogotá, aos de realidades europeias como Roma, Bolonha, Florença, MadriManchester, Milão, Paris, Estocolmo e Cracóvia; do prefeito de uma cidade multiétnica como Joanesburgo ao de uma capital do Oriente Médio repleta de história como Teerã; dos representantes das modernas metrópoles estadunidenses (Nova York, Nova Orleans, San Francisco e Seattle) até a primeira cidadã de Lampedusa, pequena realidade, mas no centro das grandes rotas migratórias.

Trata-se de problemáticas globais, que afetam a todos, indistintamente, das capitais do Norte às do Sul, das mais desenvolvidas às que ainda não o são. Quem mais, melhor do que os prefeitos, que estão em contato direto com as pessoas pode fazer algo para mudar essa situação?

Essa é a convicção da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, organizadora do encontro, que, durante a tarde de terça-feira, também contou a presença do Papa Francisco. Essa é a convicção do bispo chanceler Marcelo Sánchez Sorondo, que, ao dar as boas-vindas aos participantes, recordou como a encíclica Laudato si’ se refere aos efeitos das mudanças climáticas que recaem sobre as populações mais desfavorecidas. O prelado ressalta que são precisamente os prefeitos os governadores mais próximos das pessoas.

E, como a maioria da humanidade se concentra nas áreas urbanas, com uma tendência destinada a aumentar, as cidades e os seus habitantes podem desempenhar um papel fundamental para o bem comum. Além disso, explicou, existe um nexo entre ambiente natural e ambiente humano. De fato, o aquecimento global é fator de pobreza e de migrações forçadas, terreno fértil para o tráfico de seres humanos, trabalho escravo, prostituição e tráfico de órgãos.

Apresentando o encontro, Dom Sánchez Sorondo lembrou que mais de 30 milhões de pessoas são atualmente vítimas da escravidão moderna, como mercadorias de troca para um volume de negócios que chega aos 150 bilhões de dólares por ano. O prelado, portanto, destacou que os pobres e os excluídos incidem de maneira mínima sobre as alterações do clima, mas são os mais expostos às mudanças climáticas provocadas pelo homem.

O chanceler também reiterou que o papa tomou uma posição clara contra a escravidão moderna e convidou repetidamente a rejeitar todas as formas de privação da liberdade pessoal ou de parte do corpo para fins de exploração.

O bispo também recordou a data de 2 de dezembro de 2014, quando o pontífice e os líderes das religiões muçulmana, hindu, budista e judaica, na Casina Pio IV, assinaram uma declaração conjunta contra a escravidão moderna, para reafirmar o compromisso para trabalhar juntos, tanto para eliminar esse crime contra a humanidade, quanto para restituir dignidade e liberdade às vítimas.

Também no dia 28 de abril, durante um encontro, ainda na Casina Pio IV, as Pontifícias Academias, junto com a ONU e os líderes religiosos se comprometeram a combater essas duas emergências mundiais.

O prelado também apresentou o cardeal Francesco Montenegro, arcebispo de Agrigento, na linha de frente na acolhida aos refugiados e aos imigrantes, e Cláudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero, comprometido em favor da proteção das populações da Amazônia.

Depois, quem tomou a palavra foi Valeria Mazza, que introduziu os trabalhos, expressando a intenção comum de ajudar o Papa Francisco no seu programa para erradicar as novas formas de escravidão e melhorar a crise climática. Ambas consequências de atividades humanas irresponsáveis.

Como mulher, mãe, esposa e cidadã, ela se disse convencida de que essas são realmente emergências do nosso mundo globalizado, que somos moralmente obrigados a mudar e, hoje, temos todos os meios para fazer isso.

A presidente da Pontifícia Academia das Ciências, Margaret Archer, depois, relançou a importância da integração na sociedade das vítimas do tráfico, sem discriminações, oferecendo também um plano de reintegração em cada nação que preveja assistência sanitária, ensino da língua, acesso à formação profissional, alojamento, utilizando ao máximo as associações de voluntariado.

A presidente também destacou que é oportuno encorajar aqueles que foram ajudados a sair da escravidão do tráfico, para envolvê-los no apoio daqueles que ainda são vítimas.

Depois, foi a vez do testemunho direto dos prefeitos, que, dentre outras coisas, anunciaram medidas para limitar os danos das mudanças climáticas, como a proposta por Bill de Blasio, de Nova York, que fixou como objetivo intermediário a redução das emissões de gases de efeito estufa em 40% até 2030.

O governador da Califórnia, Jerry Brown, também denunciou como aqueles que negam a realidade do aquecimento global estão bombardeando a opinião pública com a propaganda e colocando pessoas maleáveis em posições de responsabilidade, em vez de verdadeiros especialistas em questões ambientais.

A prefeita de Madri, Manuela Carmena, falou da necessidade de uma classe política que sirva de exemplo para a sociedade e disse que a luta pelos direitos humanos também passa pela luta contra a corrupção.

Para continuar o discurso introduzido nessa terça-feira, um novo encontro está agendado para a manhã desta quarta-feira, 22, na Casina Pio IV, organizado em colaboração com as Nações Unidas sobre o tema Prosperity, people, and planet: achieving sustainable development in our cities [Prosperidade, pessoas e planeta: alcançando o desenvolvimento sustentável nas nossas cidades].

*Tradução: Moisés Sbardelotto.

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