O contato com a sociedade não indígena nos trouxe uma dependência de artigos industrializados que se tornaram de primeira necessidade, tais como sabão, panelas de alumínio, anzol e outros. Para adquirir esses produtos, trocávamos nossos artefatos com comerciantes ou com a missão católica. Essas pessoas nos davam em troca os artigos industrializados, porém em quantidades e valores que nunca correspondiam ao real valor dos nossos produtos. Era sempre uma troca injusta, pois eram eles que ditavam o preço a ser negociado. Por exemplo, cestarias que demoravam meses para ficarem prontas eram trocadas por uma barra de sabão, ou um par de roupas usadas. Porém ao adquirirem nossos artefatos, esses comerciantes os vendiam com valor muito mais acima do que pagavam. Isso fez com que muitos artesãos se desanimassem e deixassem de produzir artesanatos, porque viam que seus produtos não tinham valor.
No intuito de melhorar essa situação e valorizar a produção do artesanato rionegrino, a Foirn iniciou uma série encontros e oficinas de artesanatos, reunindo mestres artesãos, resgatando técnicas de confecção e de manejo de matéria-prima, pinturas e desenhos. E em 2005 a Foirn juntamente com seus parceiros inaugurou a Casa de Produtos Indígenas do Rio Negro (saiba mais). A casa Wariró é uma loja de comercialização dos nossos produtos, que pratica o comércio justo e a venda direta: artesão-comprador final, sem intermediários. A Casa também se tornou espaço de troca de conhecimentos, onde os artesãos promovem seminários e encontros para intercâmbio de saberes. Como bons frutos dessa iniciativa, hoje já encontramos na região diversas associações de artesãos indígenas fazendo e vendendo artesanatos e gerando renda para suas famílias. E algumas das técnicas de confecção que estavam ameaçadas de desaparecerem hoje estão revitalizadas e sendo repassadas para as futuras gerações.
–
Foto: Carolina Campos, ceramista baniwa da comunidade de Araripirá, no rio Ayari, Terra Indígena Alto Rio Negro