Servidores estavam retidos em aldeia desde quarta-feira (15). Cacique diz que 15 indígenas devem ir à Brasília.
Adelcimar Carvalho e Tácita Muniz, do G1 AC
Após três dias retidos em uma aldeia indígena no Parque Nacional da Serra do Divisor, em Cruzeiro do Sul, os servidores João Damasceno Filho, administrador do Parque, Marbelita Araceli Rodrigues dos Santos e Rútila Ferreira Lima Silva, prestadores de serviço ao ICMbio e Luiz Valdemir Nukuni, coordenador da Funai na região, foram liberados pelos indígenas. De acordo com o cacique, João Nawa, as negociações devem ser definitivas a partir de agora.
“Já tem algo encaminhado, recebemos duas cartas e segunda-feira [20] 15 pessoas devem ir até Brasília. Recebemos o documento por volta das 9h [11h, horário de Brasília] fizemos a reunião e liberamos os quatro servidores que devem voltar agora para suas casas” destaca o cacique.
Com o documento e a nova negociação, a liderança acredita que não haverá mais adiamento do caso. “Porque agora foi acordado, não é mais promessa. O que eles prometem na carta é que é uma conversa permanente, que não vai mais parar, agora a gente conseguiu chegar até onde a gente queria. Vai ficar tudo certo”, acredita Nawa.
Os índios mantiveram os quatro funcionários retidos para reivindicar a demarcação da terra indígena. Em nota, o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMbio) informou que o processo demarcatório da área, que se encontra dentro do Parque, “encontra-se judicializado, havendo controvérsias entre Funai e ICMBio quanto ao tamanho da área a ser delimitada, em sobreposição a Unidade de Conservação”.
A libertação foi feita logo após a chegada da carta da Funai e ICMbio que solicitava um agendamento para que houvesse diálogo entre os órgãos e as lideranças indígenas.
Entenda o caso
Três servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMbio) e um da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram impedidos de deixar a aldeia indígena Nawa, que fica dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor desde a última quarta-feira (15).
O povo Nawa tinha sido considerado extinto entre os anos 1904 e 1998. Em 1999, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) reconheceu os índios que habitavam à margem direita do Rio Moa, na área do Parque Nacional da Serra do Divisor, como sendo remanescentes dos Nawa. Desde então, se iniciou o processo de reconhecimento étnico e o início da luta pela regularização fundiária do seu território, que culminou com a detenção dos quatro servidores público.
A unidade de conservação da Serra do Divisor tem 8 mil quilômetros quadrados e abrange os municípios de Mâncio Lima, Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumartugo, Porto Walter e Rodrigues Alves. O coordenador do Centro de Formação e Tecnologias do Juruá (Ceflora), Evilásio Santos, avalia que o contato dos alunos com a região da Serra do Divisor e sua biodiversidade foi parte imprescindível para formação na área florestal.