Fila do Povo: As rebeldias nas falas dos camponeses e camponesas

Durante a quarta-feira, 15, os participantes do IV Congresso Nacional da CPT expressaram, na Fila do Povo, o que entendem como Rebeldia e como ela se expressa em seus cotidianos. Na ocasião, foram realizadas críticas profundas ao Estado e suas variadas instâncias – poderes Executivo, Judiciário, polícia e exército -, que mostraram o esgotamento na crença das vias institucionais. Os depoimentos também reafirmaram a necessidade do espírito de Rebeldia para a luta pela conquista e permanência na terra e no território. Confira alguns trechos da fila do povo:

Equipe de Comunicação João Zinclar – IV Congresso Nacional da CPT

“Falar de Rebeldia é falar da retomada do território de Benfica, de Charco e Cruzeiro. Já fazemos essa rebeldia na retomada dos nossos territórios. É importante dizer que não invadimos terra, nós ocupamos e retomamos os territórios que nos foram roubados”. Naildo Braga – Santa helena, Maranhão, membro do Movimento dos Quilombolas do Maranhão (Moquibom)

“A maior Rebeldia nossa é ocupar as terras do latifúndio. Se temos a terra, temos cidadania. Quando perdemos a terra, perdemos a dignidade e a vida. Rebeldia é estar nas lutas. E ainda somos chamados de sem lei, por isso, nosso maior inimigo também é, além do latifúndio, o Judiciário”. João Luiz – CPT Paraíba

“A Terra é sagrada e é um presente de Deus pra nós. Sem terra não conseguimos nada. A gente não se alimenta, não tem educação, não tem saúde. A gente não é gente. Então, precisamos continuar apontando a luta pela reforma agrária. ‘Ocupar, resistir e produzir’ precisa continuar sendo o nosso lema”. Creuza Teles – Comunidade Quilombola do Timbó – Garanhuns, Pernambuco

“Na luta, a gente tem que persistir e unir forças pra alcançar nossos objetivos, daí nasceu o Moquibom. Cada dia que passa, a nossa Rebeldia aumenta, o nosso povo se une e, junto com a CPT, nós vamos alcançar um grande final, uma nova esperança”. Maria das Neves Ramos Reis – Serrão do Maranhão, MA

“Somos estrangeiros dentro do nosso próprio território. Dizem que eu não existo mais, mas se eu estou aqui, como não existo? Somos os verdadeiros dessa terra, mas ainda continuamos sendo massacrados. Por muitos anos o Estado disse que nós não existíamos mais, mas nós existimos!”. Liderança indígena de Rondônia

“Temos que cobrar do Incra. Os conflitos que vêm acontecendo é por conta do Incra. O papel do Incra é vistoriar a terra, o da Funai é demarcar terra dos indígenas. E porque eles não cumprem esse papel? Se não cumprem com o papel, tão lá por quê? Nas ocupações somos mortos, agredidos, as lideranças são vistas como ladrões e baderneiros, mas estamos lutando por nossos direitos. Sou ameaçada, mas eu digo: ‘Sou eu que me deito tarde, sou eu que me acordo cedo, sou eu que vivo jurada, de jura não tenho medo”.  Jucélia Pereira Santos – Acampada no município de Camacã, Bahia

“Quero trazer a Rebeldia dos povos indígenas representada por um povo, um povo que hoje, na história do nosso país, revela pra nós a grande força da rebeldia: o povo Guarani kaiowá, do Mato Grosso do Sul. Viva o povo Guarani kaiowá! Um povo da terra, um povo que tinha terra, mas hoje é um povo sem terra. Fora o agronegócio! Fora o latifúndio! Demarcação de terras já! Devolução dos territórios para os indígenas e quilombolas já!”. Emília Altini – Conselho Indigenista Missionário de Rondônia (Cimi)

“Temos que ter mais ocupações no nosso estado de Alagoas. As usinas estão todas falindo, temos que aproveitar a oportunidade… Que bom seria se todos estivessem juntos, não ter divisão, todos juntos dando as mãos”. Pedro da Silva Santana – Trabalhador de Alagoas

“Rebelde é o Governo que temos hoje. Se ele agisse conforme é preciso agir, não precisava, pra nós adquirir o nosso pedaço de terra, ser rebelde. Se a gente entra numa área que é pública e devoluta eles dizem que a gente rouba. Estou sendo rebelde por causa desse governo. Digo para os meus companheiros que esse é um direito nosso e nós devemos conquistar”. Edimilson – Anapú, Pará

Imagem: Joka Madruga

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