Camponeses e camponesas, indígenas, agentes pastorais, militantes de movimentos sociais. Cerca de mil pessoas, de Norte a Sul do Brasil, acompanharam na manhã desta segunda-feira (13) a celebração de abertura do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado no campus da Universidade Federal de Rondônia (Unir) até a próxima sexta-feira (17), na capital Porto Velho.
Equipe de Comunicação do IV Congresso, na CPT
A entrada da réplica de uma poronga – símbolo tradicional da região – de 3 metros de altura atraiu olhares curiosos e surpresos, centenas de cliques e flashs. Inspirado no poema de Thiago de Mello, o tema escolhido para este Congresso é: “Faz escuro, mas eu canto! Memória, Rebeldia e Esperança dos Pobres da Terra”.
O momento também foi espaço para celebrar os 40 anos de fundação da CPT, que tem suas raízes justamente vindas das férteis terras amazônicas. Com cartazes e velas, 40 pessoas caminharam à frente do palco representando cada ano de existência da pastoral.
Dom Enemésio Lazzaris, presidente da CPT e bispo da diocese de Balsas (MA), deu boas-vindas aos congressistas e apresentou Dom Antônio Possamai e Dom Moacyr Grechi, também fundadores da CPT, e Dom Benedito Araújo, administrador apostólico de Porto Velho (RO).
Em sua acolhida, Dom Enemésio disse que iria apenas reproduzir algumas falas do Papa Francisco. “Não vou dizer palavras minhas, vou dizer algumas palavras do Papa, no discurso que ele fez para os movimentos sociais na Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra”. E iniciou com a frase “que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina!”.
Na sequência, reproduziu a fala que Papa Francisco critica a tirania do capitalismo. “Reconhecemos que algumas coisas não andam bem no mundo, onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas em sua dignidade? Reconhecemos, nós, que o sistema capitalista impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos… E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.
Acomodada em uma pequena canoa, uma Bíblia entrou acompanhada da dança charmosa de 13 dançarinos e dançarinas idosos. Na leitura de Apocalipse 22, 1-5, destacou-se que o texto é repleto de vida, de alegria, da terra, da água, dos frutos abundantes. Nessa toada, os mesmos senhores e senhoras apresentaram ao público a farinha e o açaí, típicos produtos da agricultura camponesa. Na sequência, Padre Luciano Bernadi, da CPT Bahia, e Irmã Bia, símbolo da luta ao lado dos povos da terra na região Norte do país, leram a oração da bênção dos alimentos, de Dom Pedro Casaldáliga.
“Deus de toda vida,
único Senhor da Terra,
Pai-Mãe da família humana!
Tu nos queres vivendo em irmandade,
sem medo e sem violência,
sem egoísmo e sem corrupção:
na justiça,
na solidariedade,
no amor,
cuidando da vida!
Abençoa estes alimentos,
frutos da Terra-Mãe
e arte de nossas mãos!
Reacenda a chama da nossa utopia!
Fortalece nossa marcha
para a Terra Prometida
da reforma agrária,
da ecologia profunda,
do trabalho com dignidade,
da economia sustentável,
da democracia real!
Pelo pranto,
pelos sonhos,
pela luta
e pelo sangue
dos irmãos e irmãs
que nos precederam e acompanham.
Por teu Filho, Jesus, o Libertador.
Sempre na procura do teu Reino.
Amém, Axé, Awere, Aleluia!”.
Após a oração, a farinha e o açaí foram misturados e distribuídos a todos/as os/as participantes em uma grande demonstração de partilha e comunhão, dando início de forma fraterna à programação do Congresso.
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Imagem destacada: Joka Madruga
Olha o Cosme Capistrano de Boca do Acre à esquerda na foto carregando a poronga.