Realizado com base em documentos oficiais, ‘Coratio’ relaciona a violência de ontem com a de hoje.
Da Redação Carta Maior
O primeiro Sábado Resistente de julho debaterá, por meio do documentário Coratio, os 30 anos do lançamento do livro Brasil: Nunca Mais, a primeira publicação que denunciou a tortura promovida pelo Estado na ditadura civil-militar de 1964-1985. O filme foi realizado com base em documentos oficiais.
Coratio é um documentário sobre a violência de ontem e de hoje. O “Nunca Mais” do título do livro era um apelo: “para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça”.
Mas infelizmente não conseguimos viver essa realidade. A violência não sumiu. Ao contrário: a tortura e as violações dos direitos humanos parecem institucionalizadas. Coratio discute por que ainda repetimos os mesmos erros do passado. E se existem novos caminhos pra percorrermos no presente e no futuro. Sem violência, sem absurdos.
Lançado em julho de 1985, o livro chegou às livrarias sem qualquer anúncio. Em duas semanas já estava no topo das listas de mais vendidos. Um dos principais objetivos da publicação foi preservar a memória do que ocorreu durante a ditadura. E assim tentar garantir que a tortura e o desrespeito aos direitos humanos nunca mais acontecessem. Como eles fizeram isso? De uma forma audaciosa e corajosa. Em 1979, com os primeiros passos rumo à redemocratização, alguns advogados decidiram agir para que os documentos produzidos pelos militares não fossem destruídos ou queimados – prática comum em cenários de redemocratização. E usando uma brecha legal do sistema, passaram a copiar todos os processos que estavam no Superior Tribunal Militar, em Brasília. Secretamente.
Para montar essa operação eles precisavam de dinheiro para comprar as máquinas fotocopiadoras, pagar os funcionários, montar um escritório. Procurados pelos advogados, o reverendo presbiteriano Jaime Wright e o cardeal da igreja Católica Dom Paulo Evaristo Arns embarcaram nesta ousada empreitada. Conseguiram levantar o dinheiro com o apoio do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Ao todo foram copiados 710 processos e seus anexos, um total de mais de um milhão de páginas. Um grupo de pesquisadores finalizou um primeiro projeto, chamado de “A”, em que se reuniu de forma sistemática tudo o que havia nos processos.
Para que mais pessoas tivessem acesso às chocantes informações que eles encontraram, Dom Paulo Evaristo Arns decidiu resumir o projeto “A” em um livro. Coordenados por Paulo de Tarso Vannuchi, os jornalistas Ricardo Kotscho e Frei Betto foram os responsáveis por transformar as seis mil páginas no livro “Brasil: Nunca Mais”. O livro, lançado pela editora Vozes, está em sua 40° edição.
Mas, três décadas depois do lançamento ainda não podemos dizer “nunca mais” para a tortura e violência do Estado. As práticas de violações dos direitos humanos, por agentes do Estado continuam.
A atividade é gratuita e não é necessário se inscrever.
Assista ao trailer do documentário abaixo:
PROGRAMAÇÃO: Sábado, 4 de julho de 2015 (14h às 17h30)
14h – Boas vindas
Kátia Felipini Neves (Memorial da Resistência de São Paulo)
Maurice Politi (Núcleo de Preservação da Memória Política)
Ana Castro (Diretora do documentário Coratio)
14h15 – Exibição do documentário Coratio
15h30 – Debate
Anivaldo Padilha (Formado em Ciências Sociais, ex-preso político, foi diretor do Departamento Nacional da Juventude da Igreja Metodista. Após a prisão, passou treze anos no exílio, onde continuou sua luta contra a ditadura. Foi coordenador do Grupo de Trabalho “O Papel das Igrejas durante a Ditadura”, da Comissão Nacional da Verdade)
Bruno Paes Manso (Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2012), com mestrado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2003). Graduado em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (1993) e em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (1996). Atualmente realiza pesquisa de Pós Doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da USP sobre homicídios, confiança institucional e legitimidade. Jornalista da Ponte e da VICE)
Paulo Vannuchi (Coordenador do livro “Brasil: Nunca Mais”, ex preso político, foi ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (205 – 2011) e atualmente é membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, da Organização dos Estados Americanos – OEA)
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Créditos da foto: Reprodução