Os principais grupos de sem-terra e de sem-teto do país já se organizam para intensificar as mobilizações em 2015. Tanto o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) quanto o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) não declararam apoio a nenhum dos candidatos no primeiro turno, mas declararam o voto em Dilma Rousseff (PT) no fim da corrida, em rejeição declarada a Aécio Neves (PSDB), considerado uma ameaça às conquistas do período anterior
Camilla Veras Mota – Valor
Para Gilmar Mauro, coordenador nacional do MST, o esgotamento do modelo de crescimento em que “trabalhadores e patrões ganham” – inaugurado pelo PT e defendido em parte no discurso eleitoral do candidato tucano – e a composição mais conservadora do Congresso recém-eleito, onde a bancada ruralista contará com 273 deputados e senadores a partir de janeiro (33% mais que na legislatura anterior), deve estimular a atuação dos movimentos sociais. “O próximo governo terá de escolher quem vai sair perdendo, e nós precisamos lutar para que não sejam os trabalhadores”.
A agenda de ações começa a ser debatida ainda neste ano. A reforma política está no topo da lista, segundo Mauro, além de uma maior articulação com outros movimentos sociais, entre eles os de sem-teto. Fora do debate eleitoral, a reforma agrária, ele diz, dificilmente será proposta pelo Executivo ou Legislativo. “Essa é uma mudança que só vai acontecer de baixo para cima, por uma pressão da sociedade.”
O coordenador do MST avalia como pontuais as medidas da gestão petista implementadas em favor das famílias mais pobres da zona rural nos últimos 12 anos – “algumas desapropriações” no primeiro mandato do ex-presidente Lula, iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que dá prioridade à a agricultura familiar, a maior facilidade de acesso ao crédito para consumidores de baixa renda. “O que o PT fez não foi reforma agrária, foi política de assentamento”, diz Mauro.
As principais bandeiras do MTST – reforma urbana e moradia digna para todos – também só serão conquistadas via mobilização popular, afirma Guilherme Boulos, líder do movimento. Ele afirma que os sem-teto estão entre os grupos que mais fizeram pressão sobre a gestão petista e que manterão a postura nos próximos quatro anos.
Para ele, o programa Minha Casa, Minha Vida é um avanço se comparado à ausência de políticas habitacionais semelhantes no período anterior aos mandatos de Lula e Dilma. “Mas é muito limitado e viciado em uma lógica privatista”, critica, referindo-se ao modelo que privilegia atuação das construtoras como “gerentes” do programa.
“Precisamos transformar profundamente o ‘Minha Casa’, valorizando a gestão direta por organizações populares e localização mais central dos empreendimentos. Esse é um desafio para o próximo período”, diz Boulos.
A principal pauta do MTST em 2015, segundo o dirigente do movimento, será a proposta de nova lei do inquilinato, com controle social do valor dos aluguéis. No âmbito geral, diz que o grupo quer “contribuir para a formação de amplo movimento em defesa das reformas populares no Brasil”.