O juiz Fábio Uchôa, titular da 1ª Vara Criminal do Fórum Central do Rio, decidiu ontem (22) submeter a julgamento pelo Tribunal do Júri sete acusados de participar do assassinato da diarista Edmea da Silva Euzébio, que liderava o grupo conhecido como “Mães de Acari”, que nunca encontrou os corpos de 11 jovens sequestrados em 1990. Ela e Sheila da Conceição foram emboscadas e mortas a tiros, no estacionamento do metrô da Praça Onze, em 15 de janeiro de 1993.
De acordo com a denúncia, o crime teria sido ordenado pelo coronel reformado da Polícia Militar e ex-deputado estadual Emir Campos Larangeira. Além dele, também são réus os policiais militares Eduardo José Rocha Creazola, o “Rambo”, Arlindo Maginário Filho, Adilson Saraiva Hora, o “Tula” e Irapuã Ferreira; o ex-PM Pedro Flávio Costa e o servidor municipal Luiz Cláudio de Souza, o “Mamãe” ou “Badi”. A denúncia aponta ainda a participação de uma oitava pessoa, o agente penitenciário Washington Luiz Ferreira dos Santos, cujo processo foi desmembrado do principal e está na fase de produção de provas.
Edmea teria sido morta por ter conseguido novas informações que localizariam os adolescentes de Acari – um deles seu filho – sequestrados em um sítio de Magé, na Baixada Fluminense. Segundo a denúncia do Ministério Público do Rio (MP-RJ), os acusados integravam o grupo conhecido como Cavalos Corredores, que agia sob as ordens do coronel Emir Larangeira, principalmente na década de 90, época em que o oficial comandou o 9º BPM (Rocha Miranda), unidade responsável pelo policiamento na área do bairro de Acari, na zona norte da cidade.
O caso, que chegou a ser arquivado, passou por uma reviravolta em 2011, após o depoimento de nova testemunha. Ela contou que a reunião para matar Edmea teria ocorrido no gabinete do então deputado estadual Emir Larangeira, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A data de julgamento dos acusados somente será definida após o julgamento de possíveis recursos. Todos poderão recorrer da decisão em liberdade.
A Chacina de Acari, como ficou conhecida, ocorreu no dia 26 de julho de 1990, quando 11 jovens, dentre eles sete menores, moradores da favela do Acari no Rio de Janeiro, foram retirados de um sítio em Suruí, bairro do município de Magé, onde passavam o dia, por um grupo que se identificou como policiais.
Os sequestradores queriam jóias e dinheiro, e após supostamente negociarem a sua libertação por meio de um pagamento, os sequestradores levaram as vítimas para um local abandonado. Nenhum dos jovens ou seus corpos até hoje foram localizados.
As mães dos desaparecidos começaram uma busca por seus filhos e por justiça, e ficaram conhecidas como as “Mães de Acari”, porque era na região de Acari que a maioria deles morava.