“Finalmente, ao menos uma rápida referência aos povos indígenas, já na véspera do segundo turno. Segundos de acenos para uma questão social e culturalmente tão expressiva e importante para o nosso país. Ir ao Mato Grosso do Sul e não fazer referência à questão indígena é, mutatis-mutandis, como ir a Roma e não ver o Papa. E o que é mais importante seria ter uma posição clara e inequívoca com relação à demarcação das terras e as violências e dramática situação a que estão submetidas as aldeias e acampamentos”, escreve Egon Heck, do secretariado nacional do CIMI, ao enviar o artigo que publicamos a seguir. Eis o artigo
Finalmente alguma referência aos índios. Até agora tudo transcorria como se eles não existissem. Que vergonha! Um país com 305 povos indígenas sequer tiveram uma tímida referência dos candidatos ao palácio do planalto. Quanto cinismo para um país que tomou as terras dos habitantes originários, continua saqueando os recursos naturais das terras indígenas e apregoa um economiscismo desenvolvimentista, fazendo de conta que os índios não mais existem.
Não seria possível ignorar uma das piores situações de povos indígenas hoje, em termos mundiais.
Lamentavelmente nada de novo nas propostas. Acenos aos desejos do agronegócio e de erradicação da violência. Esqueceu de dizer como pensa fazer isso. Quiçá tivesse se comprometido em cumprir a Constituição e a legislação internacional com relação aos direitos dos povos originários e teria então mais chance de avançar na desconstrução de políticas indigenistas neocoloniais e avançar no diálogo igualitários com esses povos na perspectiva de construir a autonomia e o bem viver num país plural que só será verdadeiramente democrático se respeitar o direito dos 305 povos que nele vivem.
Na semana passada uma delegação dos Kaiowá Guarani estiveram uma vez mais em Brasília, para exigir medidas urgentes para a dramática situação em que estão vivendo. Foram duros e incisivos em suas colocações: Retomada de suas terras tradicionais e em caso de tentativas de expulsão, irão cometer suicídio coletivo.
Quanto ao “marco temporal” – que apenas quer reconhecer direito das terras indígenas, onde eles estivessem ocupando a terra em outubro de 1988, por ocasião da proclamação da Constituição, Ironia por ironia, os índios perguntam , se os latifundiários e o agronegócio se encontravam nesses lugares em 1.500 por ocasião do início da invasão. Em caso negativo, a terra não lhes pertence.
Mineração – o novo nome da invasão
Durante as últimas décadas os territórios indígenas tem sofrido constante pressão e invasão por parte dos interesses minerais, garimpeiros e mineradoras. No início da década de oitenta a terra Yanomami chegou a estar invadida por mais de 40 mil garimpeiros. Essa invasão ocasionou a morte de aproximadamente mil e quinhentos índios. Vários massacres e mortes por epidemias ocorrerem com vários povos.
No início de agosto de 2002 uma delegação indígena esteve com o então presidente da Câmara Aécio Neves, que prometeu não levar ao plenário o projeto de mineração em terras indígenas, de autoria de Romero Jucá. O desafio permanece. O movimento indígena e seus aliados já se pronunciaram inúmeras vezes contra o projeto. Essa nova ameaça de invasões massivas e destruidoras dos povos e do meio ambiente pesa sobre as vidas e o futuro dos povos originários desse país.
Será importante que os candidatos à presidência da República se posicionem claramente diante de mais esse genocídio anunciado.