Vaia ao Hino do Chile: a torcida brasileira que nos envergonha para o mundo, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

O que leva uma pessoa a vaiar o hino de outro país enquanto ele é executado em um jogo de Copa do Mundo? Entendo que, em bando, os seres humanos não raro ficam mais idiotas. Isso é facilmente comprovável, por exemplo, por algumas torcidas organizadas que compensam suas frustrações cotidianas e reafirmam identidades de forma tosca através da violência.

Contudo, não são as torcidas organizadas que preenchem as arquibancadas dos estádios de futebol nestes jogos da seleção (aliás, se fossem, ao menos empurrariam o time o tempo inteiro ao invés de ficarem em silêncio, com cara de susto e medo, diante de momentos tensos), mas grupos com maior poder aquisitivo, dado o preço de boa parte dos ingressos.

Renda pode até estar diretamente relacionada à obtenção de escolaridade de melhor qualidade. Mas escolaridade definitivamente não está relacionada com educação. Ou respeito. Ou bom senso. Ou caráter.

E considerando que, provavelmente, muitos dos que vaiaram o hino do Chile quando executado à capela foram os mesmos que, minutos depois, estavam cantando “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”, posso concluir que o sujeito é guiado pela aversão do estrangeiro característica da xenofobia. Aversão potencializada e exposta pela covarde sensação de segurança por ser maioria e estar em casa.

Vaiar o hino do adversário não é uma brincadeira. Muito menos uma catarse coletiva, uma indignação contra a cantoria à capela do outro. Nem ajuda na partida. Pelo contrário, mostra para o mundo que está assistindo pela TV que nós, brasileiros, podemos ser tão preconceituosos quanto os preconceituosos que, não raro, nos destratam no exterior simplesmente por sermos brasileiros.

Aos vizinhos chilenos, portanto, peço que nos perdoem. Parte de nossos conterrâneos não sabe o que faz.

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Bordadeiras querem acabar com a figura do “atravessador”

Do Ceará para o mundo. Desfile de Ronaldo Fraga em 2011 revelou talento de bordadeiras de Passira
Do Ceará para o mundo. Desfile de Ronaldo Fraga em 2011 revelou talento de bordadeiras de Passira

Elas foram descobertas pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga

Por Thaís Pimentel, em O Tempo

Um grupo de 40 bordadeiras da cidade de Passira (CE), município com pouco mais de 28 mil habitantes, luta para aumentar a produção, variar as mercadorias e colocar em ação uma loja virtual. Elas tornaram-se famosas depois de participar de duas coleções do estilista mineiro Ronaldo Fraga. Mas para realizar o sonho de melhorar o negócio, elas contam com um projeto colaborativo que pretende levantar R$ 30 mil. Até agora, 246 pessoas já ajudaram.

“Já conseguimos 81% do valor necessário. A iniciativa termina no domingo, mas estamos confiantes”, conta a pesquisadora de artesanato brasileiro e idealizadora da proposta, Ana Julia Melo.

De acordo com ela, as artesãs, acostumadas a trabalhar na soleira das portas de suas casas, passaram a ter uma grande demanda pelos produtos depois dos desfiles “Turista Aprendiz” e “Athos Bulcão”, exibidos no São Paulo Fashion Week, em 2010 e 2011, respectivamente, de Ronaldo Fraga. O problema é que os produtos só chegavam até as mãos dos consumidores por atravessadores.

“Uma toalha de mesa, por exemplo, é vendida a R$ 100. Mas nós conseguimos apenas 10% desse valor. Nós trabalhamos demais e quereremos ver o nosso bordado reconhecido”, conta Maria Lúcia Firmino, primeira presidente da Associação das Mulheres Artesãs de Passira (Amap). (mais…)

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Quem disse que só o rico e branco defende a “elite branca”? , por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

O nível de discussão sobre a questão da “elite branca”, que começou com o xingamento à Dilma na estreia da Copa, chegou a níveis tão mirins que fui obrigado a ler frases como “não era ‘elite branca’ porque havia negros também”. Ou mesmo declarações de autoridades reclamando de que o comportamento não pode ser atribuído a tal “elite branca” uma vez que pessoas que também não são ricas estavam no coro.

Antes de mais nada, vale lembrar o que já disse aqui: Vaias, ok. Xingamento, não ok. E, particularmente, eu endossaria o coro de vaias à Dilma em um evento esportivo por motivos completamente diferentes daqueles de parte da elite brasileira presentes nos estádios: inexistência de uma reforma agrária decente, genocídio lento e gradual das populações indígenas, de outras comunidades tradicionais e dos jovens negros nas periferias das grandes cidades, falta de política eficaz de moradia para os mais pobres, a adoção de uma visão de desenvolvimento econômico não-sustentável, excludente e concentrador, o servilismo a setores e grupos como a construção civil, o agronegócio e os fundamentalistas religiosos. Enfim, vocês entenderam.

Os analistas ficaram tão preocupados em explicar o óbvio – que o PT se aliou a boa parte dessa “elite branca” para chegar e se manter no poder, tornando-se, inclusive parte dela, e agora usam descaradamente a polarização de forma eleitoreira – que esqueceram de dizer que esse termo não significa o grupo de pessoas brancas da high society, mas o pensamento hegemônico de elite, notadamente paulista. Que foi formulado, ao longo do tempo, para favorecer diretamente ricos, brancos e brasileiros, mas também é abraçado por pobres, negros ou estrangeiros que enxergam no primeiro grupo um norte a ser alcançado. Do tipo: quando crescer, quero ser igual a eles.

Seria semelhante a acreditar que só homens são formados para serem instrumentos de reprodução do machismo, mesmo que o machismo seja maléfico às mulheres.

Contraditoriamente, não raro, o segundo grupo é contra políticas que o beneficiariam acreditando em um conjunto de justificativas úteis ao primeiro grupo, decantadas através de instituições responsáveis por difundir esse pensamento, como a família, a igreja, a escola e a mídia, tornando-se guerreiros de uma outra classe social. (mais…)

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Tribunal Regional Federal da 1ª Região mantém suspenso licenciamento da UHE Paiaguá, que atingirá as T.I.s Monoki e Ponte de Pedra, em MT

Justiça

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

O desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, manteve decisão do juízo da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso, determinando a suspensão do licenciamento ambiental da Hidrelétrica Paiaguá, que atingirá as Terras Indígenas Monoki e Ponte de Pedra. A Ação Civil Pública (ACP) foi proposta pelo Ministério Público Federal no Pará contra o Estado de Mato Grosso, a empresa Global Energia S/A e o Ibama. O licenciamento para a construção da UHE foi irregularmente concedido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), sem a devida consulta aos povos indígenas, sem a apresentação do Estudo de Componente Indígena (ECI) e apesar de a Funai ter solicitado a interrupção das obras, em 2012.

Citando a Constituição, o desembargador Souza Pudente diz que “a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica”. E concorda com a posição do MPF, afirmando que Paiaguá “causará interferência direta no mínimo existencial-ecológico das comunidades indígenas Manoki e Ponte de Pedra, com reflexos negativos e irreversíveis para a sua sadia qualidade de vida e patrimônio cultural em suas terras imemoriais e tradicionalmente ocupadas”.

Abaixo, síntese da decisão do desembargador Souza Prudente, seguida de links para a íntegra das duas decisões: a do Tribunal Regional Federal da Primeira Região e a do juízo da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso. (mais…)

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Brasil: quanto mais Copa do Mundo, menos futebol?

Crianças jogam futebol na Favela do Borel. Foto: Buda Mendes, Getty Images
Crianças jogam futebol na Favela do Borel. Foto: Buda Mendes, Getty Images

Por Raquel Rolnik

Quem vê o Brasil tomado por futebol manhã, tarde e noite, nos espaços reais e virtuais, imagina que a prática do futebol, que historicamente faz parte da vida de milhões de brasileiros desde a mais tenra idade, esteja em grande alta. Ledo engano…

Pesquisa recente da Faculdade de Saúde Pública da USP e da Escola de Enfermagem da UFMG sobre as atividades físicas de lazer mais praticadas pelos brasileiros mostra que, nos últimos anos, a prática do futebol vem diminuindo, enquanto a frequência a academias de musculação e ginástica não para de crescer.

Uma das hipóteses levantadas pela pesquisa para explicar o fenômeno seria, de um lado, o aumento do poder aquisitivo da população, que teria facilitado o acesso às academias de ginástica, e, de outro, a redução de espaços públicos disponíveis para a prática de futebol.

O fato é que os campos de várzea, que no passado revelaram muitos de nossos grandes jogadores, foram minguando rapidamente nas regiões mais centrais, com o processo de urbanização que ocupou estas áreas próximas aos rios. Hoje o futebol amador sobrevive quase que exclusivamente nos campos improvisados nas periferias e favelas, também em franco processo de desaparecimento, sob o impacto da consolidação da urbanização também nestas áreas. (mais…)

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A relação entre o preconceito e o preconceituoso

Contra o preconceito esqueletos

Jean Menezes de Aguiar, do Observatório Geral, em Informações em Foco

Muitos se julgam espertos suficientemente para manter preconceitos e achar que ninguém percebe. Alguns têm consciência de suas cismas mentais. Outros chegam a sentir orgulho. Mas isto desafia reflexões.

Toda pessoa preconceituosa é um moralista. A relação é de promiscuidade mental. O preconceituoso reprova, inadmite e exclui o outro apenas pelo que este outro é. Nietzsche já desmontava esse farisaísmo social. ‘Nada é mais raro entre moralistas e santos do que a retidão’, ensinava o filósofo na obra Crepúsculo dos ídolos, número 42.

O preconceito não é algo que se ‘quer’ apenas de uma forma estigmatizada ou feia. Também não é uma ‘escolha’ que a parcela ‘cult’ ou ‘entrei-numa’ da sociedade fez no sentido de começar a achar ruim certo comportamento. Aliás, esses ‘yuppies’ da sociedade, os ‘metro-mentais’ com seus ternos pretinhos de calça fusô não produzem nada muito admirável.

O preconceito pode ter duas causas: atraso ou provincianismo. Mas uma coisa é certa, é uma manifestação de ignorância. No sentido ruim. Está na contramão do progresso social como um todo, da natural evolução dos povos e dos novos direitos. Historicamente sempre foi assim.

Quem acha bonito cultivar preconceitos deve refletir que passa para o mundo a imagem do ‘fariseu’ de Nietzsche. Ou a imagem do famoso ‘imbecil’ de Bertold Brecht, no poema ‘O analfabeto político’. (mais…)

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Quando tudo fica gris, por Elaine Tavares

O rio Uruguai, sempre uma bênção
O rio Uruguai, sempre uma bênção

Em Palavras Insurgentes

Minha irmã mais velha foi quem me ensinou a ler. Ela chegava da escola e fazia os deveres numa pequena lousa de “brinquedo”, fazendo as vezes de mestra, ensinando. Eu, olhuda e atenta, aprendia. Mal sabia ela o tanto de bem que me fazia. Tinha cinco anos quando fui levada para a escola pela nossa vizinha, Maria Tereza, que era professora. O colégio era longe, ficava no bairro do Paso, bem na beira do Rio Uruguai, e a gente ia de ônibus. Pelo caminho, eu vislumbrava uma cidade diferente da que se via pelo “centro”. O quartel, enorme, se estendendo por metros a fio, os guardinhas parados vigiando o nada, as casinhas pequenas, os pátios cheios de bergamoteiras, as pessoas sentadas na varanda, as mulheres varrendo a calçada, a gurizada correndo pelas ruas de chão. A Escola Municipal Francisco de Miranda tampouco era diferente do bairro onde se encontrava. Simples, com partes de madeira, carteiras velhas. A diferença é que tinha, bem na entrada, a foto do grande precursor das batalhas de libertação nessa nossa imensa Abya Yala: Francisco de Miranda. Imagino eu que foi ali que meu sentido de pertencimento a essa américa baixa foi se formando.

Na hora do recreio, a gurizada se espalhava pelo campo enorme que havia em frente a escola e a maior aventura era correr até o casarão da esquina para comprar picolé. Naquelas horas de folguedo também era possível se misturar às crianças do bairro, muitas delas com voz argentina. Essa coisa boa de viver na fronteira. Uma mistura de línguas e costumes. Voltar para casa, tão distante da escola, era sempre triste. Era como adentrar outro mundo, um mundo que não tinha o encantamento da vida do Paso. Foi assim que me apeguei aos livros. Por sorte, meu pai tinha pena dos vendedores de livros que batiam à porta, com sua algaravia de provações, e comprava tudo o que ofereciam. Assim, desde bem pequena tive contato com o que há de melhor da literatura nacional. Coleções inteiras com as obras de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Castro Alves, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos. Também chegavam livros sobre os Incas, Maias, Astecas, os povos africanos, os grandes filósofos, os mitos gregos. A minha casa era um mundo encantado.  (mais…)

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“Luzes da África”: autor que documentou 39 países africanos apresenta obra no Rio de Janeiro

Capa do livro Luzes da África
Capa do livro Luzes da África

Natalia da Luz, em Por dentro da África 

Rio – Ele documentou 165 países através de suas lentes, mas não foi só isso que ele registrou. Nessa estrada de descoberta, Haroldo Castro colecionou histórias, cheiros, lembranças de todas as partes do mundo. Especialmente, a África esteve em seu roteiro, onde ele somou 39 países africanos, que contribuíram para a produção de um livro com  riqueza  única,  chamado “Luzes da África”.

Haroldo já havia feito duas grandes viagens intercontinentais nos anos 1970: uma da Europa à Índia, em um Renault 5, e outra pela América do Sul, em uma Kombi. Ele conta que, há pelo menos uma década, havia decidido fazer uma viagem rodoviária pela África. O plano começou no início de 2009 e se concretizou entre novembro de 2009 e julho de 2010. Foram 40 mil km por 18 países, que deu origem ao Luzes da África, lançado em 2012.- Antes de criar o projeto, eu já conhecia 29 países africanos. Alguns, como Madagascar, eu já havia visitado mais de 12 vezes. Durante à expedição em 2009, fomos (eu e meu filho) a 18 países. Destes, oito eram novos para mim. Assim, o número de países africanos passou a ser 37. Em abril passado, estive em Togo e Benim, ou seja, hoje posso dizer que documentei 39 países do continente – conta em entrevista ao Por dentro da África o autor, que no próximo dia 2 de julho participará de um encontro acompanhado de uma sessão de autógrafos no Rio de Janeiro. (mais…)

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Mulher no DF é obrigada a participar de curso sobre igualdade racial após agredir rodoviário

O rodoviário Jerônimo Nunes foi agredido com palavras racistas por mulher que queria que ônibus parasse em lugar onde ela iria descer. TV Record /Divulgação
O rodoviário Jerônimo Nunes foi agredido com palavras racistas por mulher que queria que ônibus parasse em lugar onde ela iria descer. TV Record /Divulgação

Para não responder por ação penal no MPDFT, mulher concordou em participar das aulas

R7

Uma mulher foi obrigada pelo MPDFT (Ministério Públido do Distrito Federal e Territórios) a participar de um curso sobre conscientização da igualdade racial após agredir um rodoviário com palavras racistas.

Segundo Jerônimo Carlos Nunes, era um domingo, na Rodoviária do Plano Piloto, centro de Brasília (DF), quando a mulher, já muito nervosa, entrou no ônibus querendo que o veículo parasse em um local onde ele não parava em dias de domingo.

— Ela queria uma linha de São Sebastião que passasse pelo Gilberto Salomão. Eu falei que aquela linha não teria porque, naquela época, não rodava a linha 170 no domingo.

Mesmo assim, segundo Nunes, a mulher não conteve as agressões.

— Ela falou muitas palavras de baixo calão. Me chamou de preto, [disse] que as pessoas dessa cor nem deveriam estar em um cargo como esse [rodoviário].

Jerônimo Nunes tentou acalmar a mulher, mas ela, de acordo com ele, continuava incontrolável.

— Eu falei: “senhora, eu trabalho é com dignidade, mas se a senhora se sente ofendida com a minha cor, eu não posso fazer nada”.

O caso foi registrado na 15ª DP (Delegacia de Polícia) na Asa Sul como injúria racial. Como a acusada cumpria todos os requisitos previstos em lei, como não ter antecedentes, foi concedido a ela o direito da suspensão condicional do processo.

Para que o caso não virasse um ação penal no MPDFT, foi feito um acordo e a mulher foi obrigada a participar, com outras pessoas. de um curso sobre igualdade racia oferecido pela UnB (Universidade de Brasília), no DF.

As aulas foram ministradas em oito horas, dividas em quatro módulos. Ao todo, 13 pessoas assistiram ao curso – oito homens e cinco mulheres.

— A ideia princial do curso é educar a partir do respeito com relação às diferenças raciais. Então, para conscientizar as pessoas para esse respeito, nós falamos sobre história do Brasil e direito em relação à questão racial e sobre o uso da linguagem, como ela caracteriza injúria racial, explicou a professora Francisca Cordelha.

Segundo a professora, a maioria das pessoas que participou do curso não tinha consciência de que estava cometendo um crime.

— Boa parte das pessoas que participou do curso cometeu injúria racial por desconhecimento do uso da liguagem e do caráter ofensivo de algumas declarações em relação à lingaugem.

De acordo com a Sepir-DF (Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial do DF), em apenas um ano foram registrados 153 denúncias de racismo – a maioria em órgãos públicos. De acordo com o órgão, as mulheres são as que mais denunciam.

— Nós não podemos admitir que, em pleno século XXI, ainda possa ocorrer crimes de racismo e de preconceito racial, afirma o secretário da Sepir-DF, Viridiano Custódio.

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