Documentário levanta principais questões simbólicas e práticas sobre as regiões marginalizadas que não pertencem ao mapa oficial da cidade
Por Ivan Leonardi, em Mundo Geo
Apesar das tentativas de mapeamento colaborativo ou dos esforços de algumas instituições não-governamentais, ainda existem áreas da cidade que são representadas como “vazios cartográficos”. “Existe uma população que é invisível, porque nem num documento que deveria reconhecer toda a cidade, os moradores da favela fazem parte disso. A importância para a gente é… primeiro tem esse lado político, né?” esclarece Eliana Sousa, presidente da Redes de Desenvolvimento da Maré. As favelas do Rio de Janeiro não são representadas nem nos mapas oficiais do Instituto Perreira Passos, nem nos mapas digitais do Google. Eram apenas nomeados e sinalizados como “favelas”, mas suas ruas e vielas não eram demarcadas.
Porém, recentemente, a pedido da Prefeitura do Rio de Janeiro, possivelmente pela proximidade da Copa e dos Jogos Olímpicos, a palavra “favela” foi substituída por “morro” nos mapas do Google, o que sugere que tais regiões não são habitadas. Estamos falando de favelas como a Rocinha, Santa Marta, Maré, entre outras, que já são, inclusive, registradas como bairros. Em sua entrevista, Michel Silva, jornalista comunitário da Rocinha, explica: “A Rocinha é considerada bairro desde 1993, só que quando você olha no Google, não tem nenhuma rua, no caso, registrada. Só aquelas ruas lá da entrada. Não tem do Laboriaux, não tem a rua da Caxopa, são ruas tradicionais, que todo mundo conhece. A Rocinha, ela é conhecida internacionalmente e não tem nada no Google?”
Questões Simbólicas
“Mapas geralmente são percebidos pela maioria pelo leigo, como sendo dotados de uma objetividade ao nível máximo. O mapa tem uma subjetividade que é intrínseca e que não pode ser ignorada.” conclui um dos entrevistados, Vitório Benedett, Gerente de design, Explore & Connect, Nokia HERE.
Não estar no mapa vai muito além de questões simbólicas como a autoestima do morador, mas este também não deixa de ser um fator fundamental como conta Paulinho Otaviano, morador e Guia local no Santa Marta “O fato de você não estar no mapa, pra mim é meio que, gera uma sensação excludente, entendeu? Que a gente não faz parte da cidade, que a gente não faz parte do roteiro tradicional”. Além de reforçar o preconceito em relação ao que realmente existe naquela região. (mais…)
Ler Mais