CIR – Em um período preocupante que passam os povos indígenas do Brasil, de ameaças aos direitos indígenas, principalmente, direitos territoriais, lideranças de diferentes etnias participam no próximo dia 24 de junho, do Colóquio Internacional que traz como tema “Território, Interculturalidade e Bem Viver: as lutas dos povos indígenas do Brasil”. O evento será realizado no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC), em Portugal.
Participam da ocasião nove lideranças indígenas do Brasil, Sonia Bone Guajajara (Povo Guajajara- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil); Josias Manhuary Munduruku (Povo Munduruku); Luis Henrique Eloy Amado (Povo Terena); Maximiliano Correa Menezes (Povo Tukano); Paulino Montejo (Povo Maya – APIB Brasil); Maria Leusa Munduruku (Povo Munduruku). Entre as lideranças, também acompanham a comitiva a secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima(CIR), Telma Marques Taurepang, o líder indígena Jacir Jose de Sousa, macuxi, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e Dário Vitório Yanomami, da Hutukara Associação Yanomami(HAY).
De acordo com a programação, o evento acontece em três momentos, o primeiro, pela manhã, tratará do modelo de desenvolvimento neoextrativista brasileiro e das lutas pela terra e pelo bem-viver. O segundo, iniciando os trabalhos da tarde, destaca a saúde indígena e a interculturalidade. E por fim, o debate sobre às questões de gênero, especificamente, à saúde da mulher indígena.
A Coordenadora executiva da APIB, Sonia Guajajara avalia que “o mundo vive um momento de mudanças incrivelmente desumanas” e que “o modelo de desenvolvimento atual desrespeita, desconsidera e pisoteia quem ousar não se inserir nesse contexto”. “Nós, povos indígenas, vivemos um momento dramático de ameaças, retrocessos, violações de direitos e violências brutais. Um dos caminhos para seguirmos na luta é fazer esse enfrentamento político e internacionalizar as discussões para dar visibilidade à situação real que vivemos no Brasil”.
O Projeto ALICE- Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas, a qual organiza o evento em parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) em sua linha de pesquisa e estudos, se dedica às chamadas ‘epistemologias do Sul’ – ou seja, às alternativas ao modelo colonial, capitalista e patriarcal, conforme reflete o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, coordenador do projeto ALICE, diretor do CES e anfitrião do colóquio que “os povos indígenas são sujeitos plenos de lutas cruciais para toda humanidade, bem como detentores e praticantes de conhecimentos que desafiam a ordem estabelecida”.
Para a secretária Telma Marques Taurepang, que irá compor a mesa de debate com o tema “Questões de gênero- discutindo a saúde da mulher indígena e outros desafios” destaca que, “as lutas sociais precisam cada vez mais ser fortalecida e discutida a nível nacional e internacional, pois só assim, o Estado brasileiro irá respeitar e cumprir com os direitos constitucionais”.
O evento vai contar também com os lideres indígenas, duas gerações que se unem em uma só voz, Jacir José de Souza, macuxi, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e Dário Vitório Yanomami, da Terra Indígena Yanomami que levarão a voz dos povos indígenas do Brasil ao debate internacional.
O líder Jacir José de Souza participa da mesa de debate “O Bem-Viver e as lutas pela terra: um debate sobre o modelo de desenvolvimento neoextrativista brasileiro”. “É importante continuar a luta, nacional e internacional, porque nossas terras indígenas foram demarcadas, mas continuam ameaçadas, com entrada de invasores, projetos de mineração, hidrelétrica, além de outras terras que nem foram demarcadas ainda, tudo isso ameaça o nosso direito”, destaca Jacir Macuxi.
A expectativa dos participantes é buscar mais apoio, articulação em nível internacional, além de fortalecer a luta dos povos, de forma que venha externalizar não só as principais reivindicações, mas também de apresentar as conquistas ao longo dos 514 anos de resistência dos povos indígenas do Brasil. O momento também servirá para reafirmar os direitos garantidos na Constituição Federal de 1988 e demais mecanismos internacionais, entre os quais a Convenção 196 da Organização Internacional do Trabalho(OIT), principal mecanismo que dá direito de consulta aos povos, esse, que hoje, gravemente vem sendo desrespeitado pelo Estado brasileiro.
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