A Polícia Militar (PM) de São Paulo instaurou ontem (13) um inquérito para investigar possíveis abusos praticados na repressão dos protestos contra a Copa do Mundo anteontem (12). Os manifestantes fizeram atos na zona leste paulistana, próximos à Avenida Radial Leste e às estações Tatuapé e Carrão do metrô. Os locais são parte do caminho para chegar a Arena Corinthians, estádio que recebeu a abertura do Mundial.
O ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, considerou a ação policial “desproporcional, lamentável e inaceitável”. “Principalmente a atitude de um dos policiais militares, que demonstrou sadismo ao lançar spray de pimenta nos olhos de um manifestante que já estava totalmente dominado”, destacou.
A ouvidoria acionou a Corregedoria da PM e o Ministério Público para que investiguem os possíveis abusos. Para Neves, não houve respeito ao direito das pessoas se manifestarem. “A gente acredita que foi uma atitude deliberada da polícia, desproporcional e brutal contra essa manifestação. A manifestação é um movimento social que é perfeitamente aceitável em qualquer país democrático”, acrescentou.
O secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Grella, defendeu a operação policial. “Os fatos que se cogitam como possíveis abusos serão tratados em um inquérito policial militar, que o comando já abriu, como faz rotineiramente. Mas os relatos que temos é que não houve abusos. A polícia agiu corretamente, usou a força proporcionalmente aos atos de violência para manter a ordem pública”, disse, em entrevista coletiva.
O comandante da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira, ponderou, entretanto, que no caso do manifestante que foi atingido com spray depois de dominado parece ter havido excesso. “Naquele momento em que o manifestante estava desarmado, imobilizado, a utilização do gás pimenta não era necessária”, ressaltou. Porém, ele lembrou que o policial terá direito de se defender durante o inquérito.
Duas jornalistas da CNN foram feridas durante o tumulto causado pela ação que tentava dispersar os manifestantes. Segundo a PM, cinco pessoas foram presas e encaminhadas a delegacias. Mas o coletivo Advogados Ativistas, que acompanha os protestos na capital paulista, contabilizou 47 detenções ontem. Pelo menos 29 dessas pessoas foram detidas, segundo informações da própria PM, no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp), zona leste, carregando máscaras, vinagre e canivetes.
O Grupo Apoio ao Protesto Popular (Gapp), de socorristas voluntários que trabalham nas manifestações, atendeu 37 pessoas com diversas lesões, como ferimentos por estilhaços de bombas, balas de borracha, cassetetes, asfixia por gás lacrimogênio e por esganadura.
As estações Tatuapé e Carrão chegaram a ser fechadas pela polícia após o confronto com manifestantes. Turistas brasileiros e estrangeiros que estavam no local ficaram perdidos em meio à confusão. Funcionários do shopping, cuja entrada é a mesma do metrô e foram dispensados para ver o jogo, enfrentaram dificuldades para voltar para casa.