Famílias de mortos em obras vivem luto em meio a clima de festa da Copa

operariosmortosemobrasdacopaOito operários morreram em acidentes na construção e reforma de estádios. Arenas Corinthians e da Amazônia tiveram mais vítimas: três em cada.

Do G1, em São Paulo

A Copa do Mundo de 2014 vai começar nesta quinta-feira (12) na Arena Corinthians, um dos 12 estádios construídos, reformados ou reconstruídos para o Mundial de futebol. Oito operários morreram em acidentes de trabalho nos enormes canteiros de obras – número quatro vezes maior que nos trabalhos dos dez estádios da Copa de 2010, na África do Sul.

A primeira dessas oito mortes ocorreu no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, em 11 de junho de 2012. A última delas foi na Arena Pantanal, em Cuiabá, em maio deste ano. Os estádios de São Paulo e Manaus foram os que registraram mais mortes: três em cada.

Keille Pereira, filha de Fábio Luiz, operário morto na Arena Corinthians em novembro de 2013, após a queda de um guindaste (Foto: Thomaz Fernandes/G1)
Keille Pereira, filha de Fábio Luiz, operário morto na Arena Corinthians em novembro de 2013, após a queda de um guindaste (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Na Justiça, apenas o processo do primeiro acidente teve conclusão. Foi arquivado a pedido do próprio Ministério Público, que entendeu que o operário José Afonço de Oliveira Rodrigues, de 21 anos, foi imprudente e contribuiu para o acidente. Assim, ninguém será responsabilizado criminalmente pela morte. A família foi indenizada pela empresa que José Afonço trabalhava.

Nos demais casos, a Polícia Civil ainda investiga as causas e os eventuais responsáveis pelas mortes nas obras dos estádios. “Vai ser complicado até para assistir à Copa”, afirma Keille Pereira, de 19 anos, que perdeu o pai, Fabio Luiz Pereira, na obra da Arena Corinthians em novembro do ano passado, após a queda de um guindaste. Dessa forma, ela resume o sentimento dos demais familiares das vítimas.

O G1 procurou as famílias dos operários mortos e conseguiu ouvir seis delas, às vésperas do início do Mundial. Para quem perdeu pai, filho ou irmão na construção dos estádios, ver a bola rolando para as 32 seleções será uma sensação estranha, de dor e vazio.

Sueli Dias, mãe do operário Fábio Hamilton da Cruz, de 23 anos (Foto: Kleber Tomaz/G1 SP)
Sueli Dias, mãe do operário Fábio Hamilton da
Cruz, de 23 anos (Foto: Kleber Tomaz/G1 SP)

ARENA CORINTHIANS (SP): TRÊS OPERÁRIOS MORTOS

“Para mim, a Copa não existe”
– Sueli Dias, mãe do operário Fábio Hamilton da Cruz, de 23 anos.

Na construção da Arena Corinthians, morreram três operários. Entre eles, Fábio Hamilton, que caiu de uma altura de 9 metros em março deste ano. Em novembro de 2013, morreram Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43 anos, e Fábio Luiz Pereira, de 41, na queda de um guindaste.

Familiares e amigos lamentam a morte do operário Marcleudo Ferreira (Foto: Nilo Leite/TV Jaguar)
Familiares e amigos lamentam a morte do operário
Marcleudo Ferreira (Foto: Nilo Leite/TV Jaguar)

ARENA DA AMAZÔNIA (AM): TRÊS OPERÁRIOS MORTOS

“Não tem como esquecer”
– Marcos Antônio Ferreira, irmão do operário Marcleudo de Melo Ferreira, de 22 anos.

A Arena da Amazônia teve três operários mortos em sua reconstrução. Marcleudo morreu ao cair de uma altura de 45 metros em dezembro de 2013. O português Antônio José Pita Martins, de 55 anos, e Raimundo Nonato Lima da Costa, de 49, foram as outras vítimas.

Mãe do operário Muhammad'Ali Afonso, que morreu vítima de descarga elétrica (Foto: Kelly Martins/G1)
Mãe do operário Muhammad’Ali Afonso, que morreu
vítima de descarga elétrica (Foto: Kelly Martins/G1)

ARENA PANTANAL (MT): UM OPERÁRIO MORTO

“Dinheiro não trará ele de volta”
– Eliana Maria Antunes Maciel, mãe do operário Muhammad’Ali Maciel Afonso, de 32 anos.

A menos de 15 dias para a conclusão da Arena Pantanal, em Cuiabá, foi registrada a única morte de um operário durante a obra. Muhammad’Ali morreu ao receber uma descarga elétrica em maio deste ano.

Regina Lúcia e o filho José Afonço, 1° operário a morrer em obra da Copa (Foto: Arquivo Pessoal)
Regina Lúcia e o filho José Afonço, 1° operário a
morrer em obra da Copa (Foto: Arquivo Pessoal)

ESTÁDIO NACIONAL DE BRASÍLIA MANÉ GARRINCHA (DF): UM OPERÁRIO MORTO

“Ele queria fazer uma casa para mim”
– Regina Lúcia de Oliveira, mãe do operário José Afonço de Oliveira Rodrigues, de 21 anos.

O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha registrou a primeira vítima de acidente nos canteiros de obras das arenas da Copa, em 11 de junho de 2012, quando morreu o operário José Afonço. Ele trabalhava na reforma havia pouco mais de um mês.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Thiago Lucas.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.