Uma viga do monotrilho que ligará o aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi (Linha 17-Ouro) desabou, na tarde desta segunda (9), matando um operário que trabalhava na obra, segundo informações da Polícia Militar.
O metrô, de acordo com a Folha de S.Paulo, lamentou o acidente e informou que exigiu rápida apuração do consórcio responsável, composto pelas empresas Andrade Gutierrez, CR Almeida, Scomi Engineering e MPE Montagens e Projetos Especiais.
E São Paulo vai colecionando “fatalidades” na ampliação de seu transporte de massa sobre trilhos.
Antônio José Alves Ribeiro e José Exerei Oliveira Silva foram esmagados em junho de 2013 por um guindaste que despencou nas obras da futura estação Eucaliptos na expansão da linha 5-lilás do metrô, em Moema – bairro da capital paulista. O acidente poderia ter sido pior, uma vez que dezenas de trabalhadores estavam no local.
Em janeiro de 2007, sete pessoas morreram após serem engolidas por uma cratera aberta no local onde hoje fica a redonda estação Pinheiros da linha 4. O consórcio Via Amarela (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Alston) chegou a culpar a natureza, o terreno, as chuvas, rochas gigantes, o Imponderável da Silva, enfim, grandes forças malignas do universo contra as quais He-Man e She-Ha lutavam, pela tragédia.
A linha 4-amarela, que agora está sendo incensada como exemplo (pois, sob a responsabilidade da iniciativa privada, não entrou em greve), aliás, colecionou cadáveres. Além dos sete já citados, em outubro de 2006, um operário morreu soterrado após um túnel de 25 metros de profundidade na futura estação Oscar Freire desabar. Os responsáveis pela obra, na época, negaram-se a dar qualquer justificativa.
Em fevereiro de 2011, um engenheiro de um empreiteira terceirizada morreu eletrocutado com uma descarga de 20 mil volts enquanto trabalhava nas obras da linha 4. O Metrô informou que, “por intermédio do Consórcio Via Amarela, tomará todas as providências cabíveis e dará todo o apoio necessário à família”. Tipo: “mal aê”.
Um operário morreu no dia 13 de dezembro de 2011 nas obras de expansão da linha 2-verde, que hoje liga os bairros de Vila Prudente e Vila Madalena, quando uma barra de metal de quase uma tonelada caiu de um guindaste e o atingiu próximo na zona Leste. A empresa Galvão Engenharia, falou em “fatalidade”.
Em um momento em que parte dos paulistanos voltaram as atenções para o metrô por conta da greve e um ano depois de centenas de milhares irem às ruas pedir transporte acessível e de qualidade, parece que parte da construção civil se esforça para continuar demonstrando que o desenvolvimento urbano deve passar não apenas pelo suor de trabalhadores, mas também pelo seu sangue.
Nenhum benefício trazido à população é capaz de justificar a morte de trabalhadores e de outras pessoas inocentes.
Como já disse aqui, na hora de inaugurar uma estação de metrô, políticos sorriem muito branco. Mas na hora de encontrar responsáveis por óbitos, todos desaparecem rapidamente, feito os ratinhos que vivem nos túneis de trem. Ou dão sorrisos amarelos ao lançar a frase-mor da enrolação no Brasil: “uma comissão será criada para analisar o ocorrido”. Traduzindo: “ei, fala com minha mãozinha, fala”. Isso quando o morto não é o único culpado pela história.
E como trabalhador procurando emprego tem aos montes, continua sendo matéria-prima descartável.
Morreu um, tem logo outro para assumir o lugar.