Conheça o Ocupa Estelita, movimento que contou com 10 mil pessoas realizando atividades culturais em terreno vendido para construtoras
Por Mídia Ninja
Uma outra cidade é possível. O Cais José Estelita, no centro do Recife, abrigou hoje cerca de 10 mil pessoas em atividades culturais diversas. O terreno foi vendido ao Consórcio Novo Recife – um grupo de construtoras que em 2013 aprovou o projeto Novo Recife – e pretende ser usado para a construção de 12 torres de até 45 andares que destruirão a paisagem e trarão consequências graves ao bairro histórico de São José e seu entorno.
Depois de um processo inteiramente ilegal, que envolve um leilão fraudulento e a ausência de estudos prévios de impacto, o grupo de construtoras conseguiu na Justiça o mandado de reintegração de posse, que já foi questionado nas instâncias competentes pela Comissão Jurídica da ocupação. Apesar da iminência de uma tentativa de desocupação, a decisão do grupo foi de permanecer no espaço e continuar dando vida e democratizando um local importante da cidade que ficará privatizado na mão de um pequeno grupo de pessoas.
Em resistência, o dia de programação foi imenso, juntando atrações culturais e educativas que garantiram um público amplo. A presença das crianças dentro deste espaço político, por exemplo, tem sido buscada desde o princípio e ficou evidente nas atividades de hoje, no que foi chamado de “Ocupinho”. Para elas foram organizadas uma série de atividades, como feira de livros, oficina de pipa, contação de histórias, brincadeiras de rua e malabares. Artistas e criadores garantiam um lugar mais bonito e funcional: as paredes mal cuidadas davam lugar ao colorido dos grafites, instrumentos de sopro, DJ’s e rodas de côco forneciam a trilha e horticultores e oficinas de orquídea capacitavam os interessados.
Um dos locais que garantiu maior participação foi o Som na Rural, projeto cultural que leva música a espaços públicos com instalação técnica dentro de um carro. A Rural estacionou em frente à ocupação e sonorizou a participação de artistas como Cannibal, Siba, Lia de Itamaracá e ainda um show épico de Karina Buhr, que usou o furgão de palco e convidou o público a pensar de forma crítica sobre a cidade.
As atividades, que surgiram de forma organizada e espontânea, aconteceram simultaneamente e espalhadas ao longo do dia. Uma área de mais de 100 mil m² completamente tomada por uma nova civilidade, implicada em viver diferentes utopias: “Vamos sonhar com o impossível mesmo. Que esse espaço inteiro seja uma comunidade popular, moradia. Vai implicar uma série de interações e novas formas de fazer política” diz Bernardo, um dos ocupantes do Estelita.
A discussão do que será feito no espaço é um dos pontos centrais nas Assembleias, ambientes de avaliações permanentes sobre o movimento. Fica clara a vontade de repensar o nosso olhar sobre a cidade, e sobre nós mesmos.
A busca por cidades que sejam mais inclusivas, que reúnam as pessoas, que ofereçam espaços públicos, que não concedam os melhores locais para quem tem mais dinheiro. Cidades que consigam fazer uma interlocução do seu passado com o seu presente, sem deixar de respeitar sua identidade e memória.