Desde março de 2012, centenas de pessoas das comunidades de San José del Golfo e San Pedro Ayampuc, Guatemala, vinham bloqueando de modo pacífico a entrada da mina de ouro El Tambor da Kappes, Cassiday & Associates, uma empresa com sede nos EUA. Os locais acreditam que o projeto industrial vai consumir seu já escasso suprimento de água e afirmam que não houve um processo de consulta sobre a instalação da mina envolvendo os moradores.
No começo do ano, a resistência ganhou uma vitória parcial quando a P&F Contratistas, uma empresa local de maquinário pesado, quebrou seu contato com a KCA por falta de pagamento. Mas depois de várias tentativas frustradas da companhia mineradora de trazer mais máquinas para o local, a polícia expulsou de forma violenta os manifestantes no dia 23 de maio de 2014.
Mais de 300 policiais chegaram na madrugada para guardar uma única escavadeira. Horas de diálogo se seguiram, com manifestantes cantando e rezando para que a polícia se retirasse. Às 13h45, os policiais seguiram com a expulsão, mas a luta ainda não tinha terminado. Liderada pelas mulheres corajosas que se colocaram na linha de frente do enfrentamento, a resistência se posicionou no portão da mina e se recusou a sair.
A líder da resistência Yolanda Oquelí, que sofreu uma tentativa de assassinato em junho de 2012 em razão de seu envolvimento na questão, alertou que o governo da Guatemala seria responsável por qualquer derramamento de sangue.
As mulheres rezavam e liam a Bíblia, numa tentativa de convencer a polícia a se retirar.
Assim que o despejo começou, às 13h45 do horário local, a resistência se posicionou na entrada da mina de ouro.
A polícia disparou dezenas de cartuchos de gás, ferindo vários moradores. De acordo com a Asociación Mujeres Transformando el Mundo, um dos grupos participantes do protesto, sete ativistas estão no Hospital San Juan De Dios, incluindo María del Rosario Rosales, grávida de três meses. Um cartucho de gás teria sido disparado contra Eva Alvarez Díaz, provocando traumatismo craniano.
Quatro moradores locais também foram presos. No momento, não se sabe onde eles estão sendo mantidos. Apesar dos eventos da semana passada, a resistência prometeu reconstruir o acampamento e continuar a luta.
*Fotojornalista independente que vive na Guatemala. Veja mais do trabalho dele em MiMundo.org. Tradução: Marina Schnoor