Luciano Dayrell: 105 famílias de três comunidades vazanteiras do rio São Francisco no Norte de Minas esforçam-se para dar corpo a um sonho comum, de viverem em seus territórios tradicionais com liberdade. No dia 24 de julho de 2011, essas famílias retomaram a ex-sede da Fazenda Catelda e deram início à autodemarcação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Pau Preto, dando continuidade a um processo que vem sendo negligenciado pelo Estado desde 2006.
Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil
O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (CDDPH-SDH) discute na última quinta-feira (5) o relatório da missão que, em outubro do ano passado, constatou a precariedade da situação dos quilombos da Lapinha e da Praia e das comunidades vazanteiras de Pau de Légua e Pau Preto, no norte de Minas Gerais. Os vazanteiros têm sua vida associada aos ciclos de enchentes, cheia e seca do Rio São Francisco.
A comissão, integrada por representantes da Defensoria Pública da União e do CDDPH, verificou denúncias de violação ao direito à alimentação adequada e à terra. Segundo o relatório, as comunidades visitadas estão com o direito de acesso ao território gravemente violado, “pois, desde os anos 60, vêm sendo expropriadas e encurraladas em pequenas áreas de seu território tradicional”.
De acordo com o documento, as comunidades tradicionais “começaram a ser encurraladas nas margens e ilhas do Rio São Francisco devido à expropriação pelas grandes fazendas de criação de gado”. Na década de 80, começou a ser implantado um grande projeto de irrigação na região, parceria dos governos federal e estadual, que desencadeou um novo processo de expulsão das famílias ribeirinhas.
Na década seguinte, diz o relatório, foram criados diversos parques estaduais e reservas biológicas em locais tradicionalmente ocupados pelas comunidades tradicionais, que estão sob pressão de serem realocadas. As famílias reivindicam rapidez no processo de demarcação e titulação das terras.
Segundo o defensor público federal Claudionor Leitão, violações ligadas à regularização fundiária são a questão central, já que as populações correm o risco de ser removidas da região. “Elas têm todo um modo de viver ligado ao rio. A insegurança alimentar se dá pela indefinição, pelo histórico de expropriação dessas comunidades, pela asfixia econômica que ocorre quando são confinadas a um trecho de território muito pequeno.”
Além disso, como estão em unidades de preservação, os moradores têm dificuldade de desmatar áreas para plantação e querem que sejam aprovados planos de manejo para uso sustentável da terra.
Entre as reivindicações das comunidades tradicionais, destacam-se a construção de escolas com professores voltados para a temática quilombola, a distribuição de cestas básicas e o acesso à água potável, ao saneamento básico e a moradias do Programa Minha Casa, Minha Vida.
José Antônio da Silva, da comunidade Pau Preto, explicou que as 64 famílias da área querem respostas para suas demandas. “Estamos encurralados pelos parques estaduais, que foram criados sem diálogo com as comunidades. Hoje querem retirar as comunidades do local. Nascemos ali e queremos viver ali. Não podemos plantar e não temos como sobreviver”, disse Silva.
O Quilombo da Lapinha tem 126 famílias, o Quilombo da Praia, cerca de 60 e a comunidade Pau de Légua, 70.
A reunião é integrada por representantes de órgãos federais e estaduais, como os ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Desenvolvimento Agrário e da Educação e o Instituto Estadual de Florestas.
Editor: Nádia Franco
É uma lástima que em todo o país situações como essa repitam-se. No estado do Maranhão – creio ser de conhecimento geral – tramita desde 2005 um processo para a criação da RESEX de Tauá-Mirim, cujos debates para sua constituição no seio de doze comunidades vem sendo feito desde 1996 (Taim, Rio dos Cachorros, Porto Grande, Limoeiro, Vila Maranhão, Portinho, Ilha Pequena, Jacamim, Limoeiro, Tauá-Mirim, Amapá). Porém, desde muito tempo essas comunidades vem sendo encurraladas pelos grandes empreendimentos atraídos ao local por políticas desenvolvimentistas estatais que não respeitam as vivências específicas da população maranhense, principalmente dos pobres. Nisso vejo grande semelhança com o caso acima relatado. O pior é que a governadora Roseana Sarney já disse em carta destinada em 2012 ao Ministério do Meio Ambiente que a preservação de povos e saberes tradicionais não deve embargar o desenvolvimento do estado, demonstrando com isso qual a via de pensamento com a qual ela identifica-se, não demonstrando conhecimento de outras formas possíveis de riqueza, como a riqueza que essas comunidades possuem em seus modos específicos de viver e preservar o ambiente. Esse é só um caso, tendo outros tantos no Maranhão, que nas últimas semanas ficou tão conhecido através da mídia…