Famílias identificam corpos dos três mortos na reserva Tenharim

desaparecidos

Por Kátia Brasil e Elaíze Farias, em Amazônia Real

Familiares reconheceram por volta das 16h desta terça-feira (04), na sede do Instituto Médico Legal (IML) de Porto Velho (RO), os três corpos localizados na terra indígena Tenharim Marmelos, no sul do Amazonas, e identificaram como sendo do professor Stef Pinheiro de Souza, 43, do comerciante Luciano da Conceição Ferreira Freire, 30, e do técnico da Eletrobrás Amazonas Energia, Aldeney Ribeiro Salvador, 40, que estavam desaparecidos desde o dia 16 de dezembro.

Segundo a Polícia Federal, o reconhecimento dos corpos pelas famílias faz parte dos exames necessários, entre eles de necropsia e DNA, para que a equipe de legistas do IML e da PF conclua o laudo ainda a ser divulgado. Conforme as investigações, os três homens morreram por disparos de tiros. Os índios tenharim negam participação nas mortes.

Ao portal Amazônia Real, o superintendente da Polícia Federal em Rondônia, delegado Arcelino Damasceno, disse que os três corpos foram localizados nesta segunda-feira (03) por volta das 17h numa região de floresta densa na região da aldeia Taboca, em Manicoré, a 137 quilômetros de Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), pelas equipes de buscas e apoio de três cães farejadores da Polícia Militar do Amazonas e mateiros do Exército.

Segundo ele, nenhum indígena tenharim informou a localização dos corpos. Os cinco índios que estão presos  temporariamente por suposto envolvimento nas mortes dos três homens também não ajudaram. Estão presos presídio Pandinha, em Porto Velho (RO), Gilvan e Gilson Tenharim, filhos do cacique da aldeia Campinho Ivan Tenharim, que morreu no dia 03 de dezembro, o cacique da aldeia Taboca, Domiceno Tenharim, o professor municipal Valdinar Tenharim e o agente de saúde federal Simeão Tenharim, ambos da aldeia Marmelos.

Após quase 40 dias de buscas da força-tarefa, composta por militares da Força Nacional de Segurança e do Exército, os três cães farejadores encontraram uma cova na aldeia Taboca, mesma região onde os policiais já haviam localizado uma bolsa com medicamentos pertencentes a Luciano Freire e as peças do veículo Gol preto de propriedade do professor Stef Pinheiro, objetos que foram periciados e confirmados como sendo das vítimas.

“Os corpos foram localizados numa mesma cova dentro da aldeia Taboca, nos mesmos arredores onde foram encontrados as peças desmontadas do veículo e demais objetos. Nenhum indígena tenharim, nem os que estão presos, ajudaram na localização desses corpos. Nosso trabalho se baseou no local das peças e no trabalho dos três cães farejadores”, afirmou o delegado Arcelino Damasceno, que coordena as investigações.

Diferente do que foi descrito por algumas testemunhas, inclusive indígenas tenharim, que prestaram depoimentos à PF, os corpos dos três homens não foram mutilados ou queimados. “Os corpos estão todos íntegros, não tem nada cortado, nada decapitado. As marcas de violência são de balas. Eles foram mortos a tiros”, afirmou o delegado Damasceno.

Sobre os motivos que levaram os índios tenharim a serem aos principais suspeitos dos crimes de sequestro, homicídio e ocultação de cadáveres e de terem abordado os três homens no dia 16 de dezembro, última data em que foram vistos por testemunhas, o delegado Arcelino Damasceno afirmou que as investigações mostram que os tenharim estavam convictos de que o cacique Ivan Tenharim tinha sido atropelado por um carro preto.

“Desde o início a nossa suspeita é que a abordagem ao veículo ocorreu porque os índio acharam que aquele carro foi o autor do possível atropelamento do índio Ivan Tenharim. Só que o Ivan Tenharim não morreu atropelado, ele caiu da moto”, afirmou o superintendente da PF em Rondônia, delegado Arcelino Damasceno.

Investigação difícil

O delegado Arcelino Damasceno disse que não é possível saber, até o momento, como ocorreram as mortes dos três homens e quantos índios participaram da cena do crime. Como também o fato de que os tenharim receberam suposta orientação de um pajé de outra etnia (que não foi revelada) para identificar o carro preto como sendo o responsável pela morte do cacique. A notícia do pajé foi publicada no site acriticadehumaita. O advogado das famílias, Carlos Terrinha de Souza disse ao portal Amazônia que há no inquérito citações de testemunhas sobre o pajé.

“A orientação sobre o pajé é uma história da região, não podemos afirmar nada porque os índios (presos) disseram que não vão se manifestar. Ninguém vai poder dizer como foram as mortes. O fato é que os três homens foram mortos a tiros.”, afirmou o delegado.

Para Damasceno, com o resultado dos exames do IML, 90% das investigações sobre as mortes dos três homens estão concluídas. Ele disse que a força tarefa, composta por mais de 700 militares, não tem previsão de deixar o sul do Amazonas devido a tensão na região. “Foi uma investigação extremamente difícil e complexa, tanto pelas circunstâncias onde ocorreram os crimes e pelo local (a terra indígena) onde ocorreu. A qualidade da força tarefa foi suficiente para chegarmos nesse resultado. A força tarefa vai permanecer na região para evitar algum confronto”, disse.

A reportagem procurou o advogado do povo tenharim, Ricardo Tavares Albuquerque, para comentar as declarações da PF, mas ele disse que não vai se manifestar. Albuquerque afirmou que ainda não ingressou com o pedido de liberdade e a transferência dos cinco índios presos de Porto Velho para Manaus (AM).

O advogado Carlos Terrinha disse que as famílias aguardaram a liberação dos corpos e das certidões de óbitos para a realização das cerimônias de sepultamentos.  Para o advogado, outros prisões de índios tenharim podem acontecer. A Polícia Federal não informou sobre novas prisões.

“As famílias identificaram os corpos. Agora tem os corpos, então caiu por terra a hipótese da falta de autoria e de provas. Tem elemento de sobra para que a Polícia Federal prenda mais dez índios envolvidos nesse crime”, afirmou o advogado.

Sem comunicação

Amazônia Real vem tentando falar com os indígenas tenharim há vários dias, mas apurou que o telefônico público da aldeia Marmelos está bloqueado. Nilcélio Jiahui, indígena da etnia jiahui, vizinha da reserva tenharim, afirmou ao portal que os indígenas estão abatidos com os últimos acontecimentos, mas por enquanto eles não falarão sobre as prisões. Ele disse também que não existe intenção dos tenharim de fazer protesto nem “guerra”, diferente do que foi divulgado em alguns jornais.

Conforme Nilcélio, que falou com o Amazônia Real porque saiu temporariamente da aldeia, os indígenas continuam aguardando a presença da presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Maria Augusta Assirati, na aldeia Marmelos, a 180 quilômetros de Humaitá, cidade foco da tensão entre índios e não-índios.

Segundo Maximiniano Corrêa, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Funai confirmou nesta terça-feira (04) que Maria Augusta Assirati estará em Manaus (AM) no próximo dia 10. Ele ainda não sabe se a presidente da Funai ficará só na capital ou se seguirá para a terra indígena Tenharim Marmelos, no sul do Amazonas.

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