Justiça do Rio declara morte presumida do pedreiro Amarildo

A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo
A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

Por Giuliander Carpes, do UOL, no Rio

A 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu declarar a morte presumida do assistente de pedreiro Amarildo de Souza, que, de acordo com a denúncia do Ministério Público, foi torturado e morto por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, na zona sul, em 14 de julho de 2013.

Na primeira instância, a ação declaratória de morte presumida havia sido julgada improcedente, mas a família da vítima recorreu da decisão. “Esta declaração tem um valor emocional muito importante, embora muitos digam que não. É o Estado reconhecendo que o Amarildo morreu nas suas próprias mãos. Porque o Tribunal de Justiça é um órgão estadual”, afirma o advogado da família do assistente de pedreiro, João Tancredo. “Agora sua família vai poder velá-lo no rito que desejar.”

Na prática, a declaração de morte presumida também é importante para o prosseguimento de processo cível que tramita no tribunal. Na ação, a família de Amarildo pede uma pensão por 35 anos – a própria corte já ordenou, em caráter de antecipação de tutela, que o Estado pagasse um salário mínimo (R$ 678) e tratamento psicológico para os seis filhos, a mulher, uma irmã e uma sobrinha o assistente de pedreiro, no valor de R$ 300 por sessão. 

“Fica mais claro que a família merece uma pensão. Apesar de não estar trabalhando com carteira assinada na época do desaparecimento, Amarildo tinha 15 anos de trabalho registrado”, explica Tancredo.

Na ação que tramita na esfera cível, o Estado alega que não poderia pagar pensão para a família de um desaparecido. “A declaração de morte presumida põe uma pá de cal nesta alegação”, diz o advogado. O Estado só vai se pronunciar oficialmente depois que for notificado judicialmente da decisão.

Dos 25 policiais militares denunciados no caso Amarildo, 13, incluindo o comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos, e o subcomandante, tenente Luís Felipe de Medeiros, estão presos.

O atual coordenador das UPPs, coronel Frederico Caldas, chegou a pedir desculpas à família do ajudante, em nome da PM, pela morte dele, surpreendendo até mesmo a viúva.

OS 25 PMS DA UPP DA ROCINHA RÉUS NO CASO AMARILDO

Major Edson Raimundo dos Santos Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual (2x)
Tenente Luiz Felipe de Medeiros Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual (2x)
Soldado Marlon Campos Reis Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual
Soldado Douglas Roberto Vital Machado Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual
Sargento Jairo da Conceição Ribas Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Anderson Cesar Soares Maia Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Fábio Brasil da Rocha da Graça Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Jorge Luiz Gonçalves Coelho Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Victor Vinicius Pereira da Silva Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Wellington Tavares da Silva Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Sargento Reinaldo Gonçalves dos Santos Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Sargento Lourival Moreira da Silva Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Wagner Soares do Nascimento Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
Soldado Rachel de Souza Peixoto Tortura / Ocultação de cadáver
Soldado Thaís Rodrigues Gusmão Tortura / Ocultação de cadáver
Soldado Felipe Maia Queiroz Moura Tortura / Ocultação de cadáver
Soldado Dejan Marcos de Andrade Ricardo Tortura / Ocultação de cadáver
Sargento Rodrigo Molina Pereira Tortura (por omissão)
Soldado Bruno dos Santos Rosa Tortura (por omissão)
Soldado João Magno de Souza Tortura (por omissão)
Soldado Jonatan de Oliveira Moreira Tortura (por omissão)
Soldado Márcio Fernandes de Lemos Ribeiro Tortura (por omissão)
Soldado Rafael Bayma Mandarino Tortura (por omissão)
Soldado Sidney Fernando de Oliveira Macário Tortura (por omissão)
Soldado Vanessa Coimbra Cavalcanti Tortura (por omissão)

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