Adital – No 30º aniversário do assassinato do índio guarani Marçal de Souza Tupã-i, líder da luta de seu povo para conseguir o direito de posse de seus territórios, a organização Survival International apresenta dados preocupantes que mostram o alcance da violência que sofrem os índios guaranis do Brasil. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a maioria dos indígenas assassinados no Brasil é da etnia guarani.
Em 2012, a taxa de assassinatos entre guaranis foi quatro vezes maior que o índice nacional de homicídios no Brasil, que já é por si só um dos mais elevados do mundo. A taxa nacional de homicídios no Brasil em 2012 foi de 25,8 por 100 mil habitantes. Segundo o Cimi, 34 guarani no Estado do Mato Grosso do Sul foram assassinados em 2012, de uma população de 31 mil.
Atualmente, os guaranis continuam sendo vítimas da violência e dos ataques de pistoleiros, na tentativa de reocupar suas terras ancestrais, que foram usurpadas para a construção de fazendas e plantações de cana-de–açúcar. Apesar das obrigações nacionais e internacionais, as terras não foram devolvidas aos indígenas.
Ainda como resultado da violência e da perda dos territórios, a taxa de suicídio entre os guaranis é 34 vezes maior que a média nacional do Brasil. A vítima mais recente de suicídio é Valmir Veron, filho de Marcos Veron, outro líder guarani assassinado em 2003.
Rosalino Ortiz, que liderou, no mês passado, a reocupação da terra de sua comunidade em Yvy Katu, no Mato Grosso do Sul, declarou à Survival: “As coisas estão muito tensas neste momento. Os proprietários de terra possuem muito dinheiro para contratar pistoleiros para fazer um massacre em Yvy Katu”. O diretor da organização, Stephen Corry também declarou: “Os líderes guaranis estão sendo mortos um a um. Os funcionários admitem que uma vaca vale mais do que uma vida guarani. Essas estatísticas são alarmantes, mas não devemos esquecer que existe uma solução muito simples: respeitar os direitos dos guaranis à suas terras ancestrais”.
O líder Guarani Marçal liderou a luta dos Guarani para a sua terra e trouxe o sofrimento da tribo à atenção do Papa João Paulo II e das Nações Unidas. Ele foi morto em 25 de novembro de 1983 por um pistoleiro supostamente contratado por um fazendeiro local. Antes de sua morte, Marçal disse: “Eu sou uma pessoa marcada para morrer. Nós índios sentimos a injustiça, a pobreza, a perseguição, a fome, porque a área que ocupamos não oferece mais condições para nossa sobrevivência”.