Famílias da região Oeste e Sudoeste garantem presença da Copel nas negociações, mas ainda precisam de garantias de reassentamento e indenização pelas áreas
Pedro Carrano, de Curitiba (PR), em Brasil de Fato
Foi uma verdadeira jornada dos atingidos pelas obras da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu, no dia 20 de novembro, quando cerca de 200 pessoas partiram das regiões Sudoeste e Oeste do Paraná, enfrentaram mais de 10 horas de viagem, para protestar em frente à Empresa Paranaense de Energia (Copel), na parte da manhã, e também na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), na parte da tarde.
“Não somos contra a usina, somos contra a atitude que estão tomando contra nós”, denuncia Ireny Antunes, agricultora familiar instalada há 49 anos na região. Pessoas como ela – que é presidente do sindicato local de pequenos agricultores –, representavam cerca de 1000 famílias de cinco cidades. Esse é o número real de atingidos, uma vez que o consórcio do empreendimento apontava somente 360 famílias antes do início das obras.
A crítica desses agricultores e ribeirinhos deve-se ao fato de que não há política de reassentamento. Os valores oferecidos pela terra são baixos, incompatíveis com o valor de mercado, garante Sidnei Martini, uma das lideranças do movimento.
“As famílias têm vivido uma incerteza, porque as empresas postergam a negociação. Não se tem um termo de acordo até hoje, não se tem sequer a apresentação de um caderno de preços, de acordo com as normas, e que não vai atender a demanda dos atingidos”, diz Martini.
Até o momento, a falta de diálogo é um fato e a construção no canteiro de obras já está em pleno andamento.
“Negociação tem, mas não leva a nada. Nesse ritmo vai chegar uma hora em que não haverá o que fazer”, denunciou o deputado estadual Tadeu Veneri, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.
O protesto contou com a solidariedade do Sindicatos dos Engenheiros do Paraná e do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina. O Levante Popular da Juventude também contribuiu com a construção do ato. “Chão, chão, chão, a Copel é do povão!”, enfatizava uma das palavras de ordem da juventude, cantada em frente à sede da Copel, na região central de Curitiba.
Quem é o responsável?
O consórcio responsável pela gestão da usina, chamado Geração Céu Azul, é formado pela corporação Neoenergia e pela Copel, que detém 30% de participação no empreendimento. A Neoenergia, por sua vez, é formada pelo Fundo de Pensão Previ do Banco do Brasil e, majoritariamente, pela multinacional Iberdrola, com sede na Espanha.
Em meio a essa composição, a participação da Copel na mesa de negociações era uma das exigências do movimento.
Ao final da manhã, representantes dos atingidos foram recebidos por Jaime Oliveira Kuhm, diretor-presidente da empresa de energia, quem sinalizou o acompanhamento das próximas negociações. Isso pode se dar de maneira formal ou informal, uma vez que a Copel justifica ainda não estar homologada no interior do consórcio dono do empreendimento.
Vários integrantes dos atingidos saíram animados com as garantias obtidas. “Foi importante tirar essa pauta do foco regional e levar para todo o Paraná. Além disso, para a Copel o ato serviu de alerta, devido a todas as informações que temos sobre o que acontece no empreendimento”, afirmou o agricultor Sidnei Martini.