Memorial fica localizado na Serra da Barriga, em União dos Palmares. Sítio arqueológico deve receber 7 mil pessoas no dia da Consciência Negra
Waldson Costa – Do G1 AL
O Quilombo dos Palmares, maior centro de resistência negra do Brasil Colonial, resiste. Do alto da Serra da Barriga, em União dos Palmares, o local que foi símbolo da luta pela liberdade dos escravos por mais de um século, é mantido preservado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que considera o Parque Memorial Quilombo dos Palmares como Patrimônio Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico desde 1985.
Destino turístico de Alagoas, o sítio arqueológico do principal quilombo de resistência negra das Américas teve algumas de suas principais edificações reconstituídas, recuperando aspectos históricos e culturais da comunidade e do povo que resistiu por mais de 100 anos aos ataques de holandeses, portugueses e bandeirantes.
De Maceió até o município de União dos Palmares são 84 km. Da cidade conhecida como ‘Terra da Liberdade’ até o pico da Serra da Barriga, onde está localizado o Parque Memorial, mais 9 km por estrada de terra, em um percurso que exige prudência do condutor, mas que compensa diante da vista que se abre a cada curva da serra.
Ao chegar ao quilombo é preciso atravessar a muralha protegida por uma torre de vigilância para alcançar o largo onde estão situadas as edificações feitas de pau a pique e cobertura vegetal. No destaque, do cenário montado entre árvores, estão ocas em formatos indígenas, a casa de farinha, a estátua em homenagem aos negros e os espaços destinados a convivência comunitária e religiosa.
“O Quilombo dos Palmares é um lugar especial porque representa a ancestralidade de um povo que resistiu a diversas batalhas em nome da liberdade. Além de tudo, este local faz parte da história de Alagoas e do Brasil que merece ser conhecido e compreendido pelo povo brasileiro”, expõe a representante da região Nordeste da Fundação Palmares, Maria José da Silva.
Ainda no entorno do quilombo, outros pontos que chamam a atenção dos visitantes são os mirantes, com vistas ampliadas de grande parte da região, e a Lagoa Encantada dos Negros, nascente que ainda abriga uma antiga árvore gameleira. Atualmente, 16 famílias descendentes dos quilombolas ainda vivem dentro do Parque Quilombo dos Palmares, entre elas, a dona de casa Adriana da Silva dos Santos, 27 anos, que trabalha vendendo água e comida para os visitantes.
“Vivi toda minha vida aqui. Gosto deste lugar. A única coisa que sinto falta é a presença de pessoas durante as outras épocas do ano. Só em novembro é que o movimento de visitantes aumenta e consigo ganhar um dinheiro extra para ajudar meu esposo”, diz a vendedora de cocada Adriana enquanto aguarda os poucos turistas que visitam o local.
Consciência Negra
Durante as festividades da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, data da morte do último comandante-chefe do Quilombo dos Palmares, o guerreiro Zumbi dos Palmares, que foi morto em 1695, a expectativa é que cerca de 7 mil pessoas visitem o local, entre elas turistas de todo o mundo e integrantes de movimentos negros.
Neste ano, as comemorações na Serra da Barriga contam com cortejo religioso, roda de capoeira e diversas outras atividades culturais. As festividades se estendem ainda por União dos Palmares, onde acontece o show do sambista Martinho da Vila, e pela comunidade quilombola Muquém, que fica a 4 km da cidade palmarina.
Zumbi dos Palmares
Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas.
No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após uma batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.
Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.
Resistência
Foram necessárias cerca de 18 expedições para destruir definitivamente o Quilombo dos Palmares. Em uma das ocasiões de batalha, Fernão Carrilho ofereceu a Ganga Zumba, um líder que emplementou táticas de guerrilha na defesa do território, um tratado de paz, onde ficaria instituído que todos os nascidos no quilombo seriam livre. Proposta que foi rejeitada por grande parte dos quilombolas.
No embate político, Ganga Zumba foi envenenado, deixando o poder para o irmão, Ganga Zona, aliado dos portugueses. Fato que resultou em rompimento entre os negros gerando um novo grupo liderado por Zumbi. Na ocasião, ele substituiu a estratégia de defesa passiva por guerrilha, com a prática de ataques surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos.
Após várias investidas relativamente infrutíferas contra Palmares, o governador e Capitão-general da capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, contratou o bandeirante Domingos Jorge Velho e o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.
O quilombo passou a ser atacado pelas forças do bandeirante que contou com um contingente de 6 mil homens, bem armados e municiados. Um quilombola, Antônio Soares, foi capturado e, mediante a promessa de Domingos Jorge Velho, entregou Zumbi, que foi encurralado e morto em uma emboscada, no dia 20 de novembro de 1695.
A cabeça de Zumbi foi cortada e conduzida para Recife, onde foi exposta em praça pública, no alto de um mastro, para servir de exemplo a outros escravos. Sem a liderança militar de Zumbi, por volta do ano de 1710, o quilombo desfez-se por completo.