
Xamã Davi Kopenawa, pajé da tribo yanomami, participa de colóquio com acadêmicos. Discurso de índio enfatiza urgência em deter a destruição de florestas e rios
Ana Elizabeth Diniz – O Tempo
O auditório da reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tinha em sua plateia acadêmicos e catedráticos que foram ouvir a sabedoria de Davi Kopenawa, índio da tribo yanomami, uma das lideranças indígenas mais importantes do Brasil e do mundo. Intérprete da Funai, pajé, xamã, chefe do posto indígena de sua região, Kopenawa é presidente da Hutukara Associação Yanomami, “uma embaixada indígena junto com o homem branco”, como ele diz.
Na semana passada, o índio recebeu a cátedra do Programa Cátedras do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT/Fundep) que busca reconhecimento e status científico do pensamento indígena, colocando-o no mesmo patamar da ciência e filosofia. David já proferiu discurso na Organização das Nações Unidas (ONU) e em centenas de outros fóruns internacionais e, em 1988, recebeu o Global 500 Award das Nações Unidas, o mesmo prêmio concedido a Chico Mendes.
Para uma plateia de atentos napës (homens brancos), Davi disse que é um filho da Amazônia, vive na floresta, na região da serra do Demini, onde nasceu, perto da fronteira entre Amazonas e Roraima com a Venezuela. “Estamos aqui sentados na barriga da nossa mãe-Terra, que nós, índios, chamamos de hutukara, que tem pedra, terra, areia, rio, mar, Sol, lua, chuva, estrela, vento, em um só corpo, tudo unido. Hutukara é uma prioridade para todos nós, povos da terra. Temos que cuidar dele, não pode destruir tudo, fazer grande buraco. Nós, índios, estamos aqui há mais de 500 anos e nunca destruímos ele”.
Sofrimento
Davi não entende o pensamento dos napës que agridem a terra. “Nós não precisamos arrancar recursos naturais, areia, barro, pedras preciosas e minério porque eles não matam nossa fome. Nosso pai e mãe trabalham por ele, plantam alimentação, e hutukara deixa nascer e crescer pra gente comer. Índio tem pensamento diferente. Hutukara é um ser vivo, é ele que cuida de nós, dá alimentação, água”.
O índio sustenta que a natureza está sofrendo. “Só que hutukara não vai gritar como nós gritamos. As máquinas pesadas são como lâminas que sangram hutukara. Sou analfabeto, mas tenho saber tradicional. Será que o homem não tem pensamento, não pensa em seu futuro, nas gerações que vão sofrer? Pra que vocês vão pra escola? Pra aprender a ser destruidor? Nossa consciência é outra. Terra é nossa vida, sustenta a barriga, é nossa alegria. É boa de sentir, olhar… é bom ouvir as araras cantando, as árvores mexendo, a chuva”.
Yanomami
Dialeto. Omama, na língua yanomami, significa “divindade indígena”, yãkoãna, planta alucinógena ministrada pelo pajé em rituais de cura e urihi é a natureza.
Depoimento