Com falta de água e infraestrutura, indígenas dizem que jogos em Cuiabá são os piores da história

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Jardel P. Arruda – Olhar Direto

Índios de variadas etnias participantes dos 12ª Jogos dos Povos Indígenas afirmam que o evento realizado em Cuiabá é o pior de todas as edições já realizadas anteriormente. A maior parte das reclamações é referente a precariedade da infraestrutura, passa pela falta de conforto e vai até a pouca visibilidade da competição.

Um dos maiores problemas enfrentados pelos indígenas foi a falta de água nos dias que antecederam o evento. Aislan Wapri Iwari, membro da equipe de cabo-de-guerra do povo Xavante, contou que chegaram ao alojamento na quinta-feira (7) e ficaram até sábado (9) sem água para tomar banho ou lavar roupas.

“A gente ficou muito feliz quando soube que Cuiabá seria sede dos jogos. Mas quando chegamos aqui já ficamos três dias sem água. Achamos que os índios de Mato Grosso seriam bem tratados aqui, mas isso não aconteceu. É uma decepção que a gente vai deixar gravada na memória”, disse o xavante, que participa pela quarta vez dos Jogos dos Povos Indígenas e diz nunca ter sido tão maltratado.

Segundo Aislan, devido a escassez de água os indígenas tem lavado a roupa em um rio que fica próximo ao alojamento, localizado no distrito do Sucuri, em Cuiabá. Quem também fala sobre a falta de água é Haru Kuntanawa, líder do povo Kuntanawa, etnia da Amazônia. De acordo com ele, isso, associado ao clima local, tem desgastado a saúde de alguns indígenas.

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“Nós não somos acostumados a esse clima. Tem muita gente aqui ruim com a poeira. Eu mesmo estou sem voz. Devia ter mais lugar para beber água. Deviam ter depósitos grandes de água para não ficarmos sem água. Eu tenho certeza que o Governo de Mato Grosso tem um lugar melhor do que esse para nos oferecer. Um lugar gramado, por exemplo”, ponderou Haru.

Alguns índios do povo Wapichana, etnia oriunda da fronteira de Roraima com a Guiana Inglesa, reclamaram do mau investimento feito na sede dos jogos. A “vila olímpica”, na qual foram gastos R$ 3,7 milhões, não terá utilização após o evento e, mesmo com esse montante investido, a infraestrutura é precária.

A chuva que caiu na tarde de segunda-feira (11) enlameou todo alojamento das diferentes etnias, invadindo as cabanas e criando lamaçais nas vias de acesso ao local. Foi preciso improvisar um aterro com cascalho para tampar as maiores poças de lama.

Outra reclamação é referente ao conforto. De acordo com o xavante Aislan Wapri Iwari, em outras edições que ele participou, em Palmas (TO), Marabá (PA) e Guaíra (PR), até os dormitórios tinham melhor qualidade. “Eles davam colhão, cobertor e travesseiro. Aqui só rede que é mais barato”, reclamou.

Além disso, vários indígenas reclamaram da falta de acessibilidade do local onde os jogos estão sendo realizados. “Se fosse para ninguém ver, nós jogávamos dentro da nossa própria aldeia”, disseram vários indígenas enquanto a reportagem ouvia lideranças.

O Comitê Intertribal informou, através de sua assessoria de imprensa, que toda a infraestrutura do local da sede é de responsabilidade do Governo de Mato Grosso e da Prefeitura de Cuiabá, cabendo a eles apenas a organização dos jogos.

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Confira abaixo nota de esclarecimento da Secretaria Estadual de Esportes

A Secretaria de Estado de Esportes e Lazer (Seel-MT) esclarece que a construção de toda infraestrutura dos 12º Jogos dos Povos Indígenas, em Cuiabá, foi realizada conforme os padrões exigidos para a realização do evento e padronizada de acordo com as orientações do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC), idealizador e realizador dos Jogos há mais de dez anos.

Quanto às reclamações de indígenas por suposto desconforto nos alojamentos, a Seel-MT informa que forneceu aos 1.600 participantes um kit com itens exigidos pelos indígenas para a estadia, como redes, mantas, roupas e produtos de higiene pessoal. A construção das ocas foi feita obedecendo a critérios de sustentabilidade e arquitetura indígena.

Em relação à comida, foi contratada uma empresa para fornecimento de quatro refeições diárias e estas estão sendo disponibilizadas a todos os 1.600 participantes. Quanto à água, a Seel-MT já providenciou ampliação do fornecimento no local.

A Seel-MT informa, ainda, que o local do evento, no Jardim Botânico, região do Sucuri, foi escolhido a pedido dos próprios indígenas, que necessitavam de um espaço com vegetação e rio próximos. Além das ocas para os alojamentos, os povos contam com um ambulatório 24h para o atendimento médico, refeitório, e espaços de integração e conhecimento (oca da sabedoria e oca digital) e um local exclusivo para que eles possam comercializar o artesanato. Há ainda uma área administrativa com equipe disponível para dar suporte aos indígenas, e foi construída uma arena coberta no Jardim Botânico, com capacidade para 8 mil pessoas, onde eles fazem a demonstração dos jogos ao público.

Diante das reclamações, a Seel-MT comunica que está atuando em alinhamento com o Comitê Intertribal, instituição porta-voz dos indígenas durante o evento, para sanar quaisquer dificuldades e/ou problemas que surgirem no decorrer dos Jogos. Além disso, esclarece que, se forem constatadas irregularidades na prestação de serviços por parte das empresas contratadas, estas serão investigadas para que sejam tomadas as devidas providências.

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