Carta em apoio ao acampamento do MST na Chapada do Apodi

“Já não podemos calar.
Chega o tempo de vencer,
Chega o dia de lutar,
Sem morrer.
A única forma de vencer a morte
É enfrentá-la.
único jeito de vencer é lutar,
único modo de fazer justiça,
É continuar lutando.
Assim viveremos eternamente”
(Ademar Bogo)

Nós, organizações populares e instituições, representamos, estudamos e apoiamos trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, em sindicatos, associações, cooperativas, movimentos sociais, movimentos de mulheres, movimentos da juventude e das igrejas, e que defendemos, com base nos princípios constitucionais, os direitos humanos, a reforma agrária, a agricultura familiar, camponesa e agroecológica e a soberania e a segurança alimentar, por meio desta carta manifestamos nosso apoio ao acampamento Edivan Pinto, do Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Sabemos que a questão histórica da terra no Brasil constitui uma das maiores raízes dos problemas sociais, pelo fato de abrir caminho a um emaranhado de contradições que, por sua vez, entrelaçam as velhas e as novas relações econômicas, sociais e políticas do nosso cenário agrário. Dessa forma, não à toa, trabalhadoras e trabalhadores e movimentos socioambientais assinam consensualmente a reforma agrária, como linha programática tática, política estruturante e condição objetiva concreta para o Brasil superar as injustiças e promover o desenvolvimento social, ampliando a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, sem distinção de raça, cor, etnia e religião.

No entanto, a história mostra que a pauta da reforma agrária quase sempre não foi considerada ou priorizada pela agenda programática do Estado brasileiro, legitimando uma enorme dívida social no campo, desigualdades sociais e concentração das terras nas mãos dos latifundiários e empresas estrangeiras. Os “donos da terra” vêm sendo responsáveis pela imposição de um modelo de produção de alimentos que compromete os nossos bens naturais indispensáveis à vida e estratégicos (como terra, água, biomas naturais, florestas e minérios) em detrimento da imposição do agro-hidronegócio, com a exploração do uso vertiginoso e indiscriminado de agrotóxicos – causa de muitos problemas de saúde ao nosso povo –, concentração das sementes, aumento dos preços dos alimentos e desapropriação de terras pertencentes ao povo.

Nesse sentido, os movimentos e as organizações da sociedade civil aqui representados reafirmam a relevância e a importância da luta e da resistência das trabalhadoras e dos trabalhadores do acampamento Edivan Pinto, localizado na BR-405, nas imediações do município de Apodi/RN. O aludido acampamento, que ocupa terras improdutivas, já conta hoje com cerca de mil famílias sem terras da região, as quais reivindicam a reforma agrária, bem como a sua permanência naquele território, onde está se instalando o Perímetro Irrigado Santa Cruz do Apodi – nomeado pelas famílias como “Projeto da Morte”.

Além disso, trata-se do maior acampamento rural do Brasil, atualmente, construído e articulado pela união entre os movimentos sociais da região, as entidades e o povo marginalizado que de mãos dadas solidariamente gritam contra o silêncio da ordem injusta imposta e a violação dos seus direitos sonegados historicamente.

Assim, cientes de que só a luta nos é legítima e somente ela pode melhorar as condições de vida do nosso povo, o acampamento Edivan Pinto, o maior acampamento do Brasil, representa uma das maiores expressões da luta de classes de um povo, que motivado pelos sentimentos de indignação, oriundos de suas histórias de vida, marcadas por injustiças e marginalização, se alimentam da esperança da luta, materializam-se em organização, resistência e buscam as suas libertações com a libertação da terra. Terra esta que deve se comprometer com o povo, com a soberania e a segurança alimentar, com a produção de alimentos saudáveis, com a igualdade, com a justiça, e com projetos de vida.

Assim, acampamento Edivan Pinto, declaramos a ti o nosso apoio, solidariedade e comprometimento em trilharmos juntas e juntos a luta pela reforma agrária popular e pela agricultura familiar, camponesa e agroecológica. Gritamos: Essa luta é nossa e só com luta se constrói um Brasil novo!

“Lutar e Construir Reforma Agrária Popular!”
(Lema do VI Congresso Nacional do MST – fevereiro de 2014)

“… Pois somos do povo os ativos / Trabalhador forte e fecundo/ Pertence a Terra aos produtivos/ Ó parasitas deixai o mundo / Ó parasita que te nutres / Do nosso sangue a gotejar / Se nos faltarem os abutres / Não deixa o sol de fulgurar.”
(Hino Internacional)

Assinam:

Projeto Ser-tão
Movimento Dá Licença Coronéis
Coletivo Quebrando a Dormência
Coletivo Feminista do Vale do Açu
Grupo de Agroecologia do Vale do Açu (Gava)
Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA)
Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Apodi (STTR – Apodi)
Movimento Mística e Revolução (MIRE)
Diretório Central dos Estudantes da UFERSA
Motyrum – UFRN
Centro Academico de Direito Emmanuel Bezerra – Uni-RN
Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH)
Centro Acadêmico de Direito Rose Mary Souza – UERN Natal
Centro Acadêmico de Turismo Algarim Medeiros – UERN Natal
Marcha Mundial das Mulheres
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Centro Acadêmico Ana Maria Primavesi (IFRN – Câmpus Ipanguaçu)
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)
Grêmio Professor Marcel Lúcio do IFRN – Câmpus Ipanguaçu
Grupo Verde de Agricultura Alternativa (GVAA)
Centro Feminista 8 de Março (CF8)
Grêmio Professor Marcel Lúcio do IFRN – Câmpus Ipanguaçu
Pastoral Operária
Grito das/os Excluídas/os
Associação das Comunidades Fraternas (ACF)
Cáritas Mossoró – Representante Padre Talvacy Chaves de Freitas
Articulação Nacional de Agroecologia – ANA

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Rodrigo de Medeiros Silva.

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