XX Assembleia do Cimi: desafios e perspectivas na construção do Bem Viver

44Diante de uma conjuntura profícua em desafios aos povos indígenas, que seguem lutando por seus direitos e vidas, o Conselho Indígena Missionário (Cimi) iniciou na manhã desta terça-feira, 5, a XX Assembleia Geral da organização, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO). Com a presença de 120 missionários e missionárias, além de lideranças indígenas e convidados, o encontro tem como tema ‘40 anos do Cimi: desafios e perspectivas na construção do Bem Viver’

Arpin Sul – A XX Assembleia do Cimi busca sistematizar as contínuas avaliações e análises iniciadas em novembro do ano passado, durante o congresso que comemorou os 40 anos da organização. Lembrando do poeta lusitano Fernando Pessoa e citando o Livro de Lucas (Lc 5,4), o documento de análise emplaca: “Navegar é preciso, avancemos para águas mais profundas”.  Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e presidente do Cimi, ressaltou três aspectos fundamentais relacionados ao Cimi: alegre na esperança, forte na tribulação e perseverante na oração.

“O encontro acontece num contexto de grande ofensiva aos direitos dos povos indígenas pelo governo federal e bancada ruralista no Congresso Nacional. Este ano tem sido de grande resistência do movimento indígena e das organizações que os apóiam. Precisamos, então, olhar para o passado, agir no presente e nos preparar para o que virá em nossa decisão intransigente de se manter ao lado dos povos indígenas”, declara o secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto.

Este olhar “mais para dentro” do Cimi atende a dimensões filosóficas, políticas, operacionais e subjetivas, em interface com a atual quadra histórica. “Vivemos na sociedade do crédito, consumidora, uma era de extremos e de saídas individualizadas. A cidadania se expressa no ato de consumir. Tudo isso influi na ação do Cimi e precisamos reparar e refletir sobre esse mundo ao redor e como ele nos afeta”, analisa o missionário Roberto Liebgott, do Cimi Regional Sul.

Tais dimensões também interagem com os povos indígenas, seja na hora de significar a perspectiva homogênea da sociedade envolvente ante os desafios e pluralidade da convivência comunitária e social dos povos, como nos ataques do projeto desenvolvimentista do governo federal e do capital contra os territórios tradicionais, não apenas habitados pelos indígenas, mas quilombolas, pescadores, ribeirinhos, camponeses.

Indigenismo

“O indigenismo do Cimi é o libertador, em oposição ao indigenismo de tutela do Estado. Em âmbito nacional existem 32 conselhos e duas comissões nacionais: a de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) e a de Política Indigenista (CNPI). Por que apenas estas duas não obtiveram o status de conselho?”, questiona o missionário Saulo Feitosa, secretário adjunto do Cimi.

Para o missionário, algumas razões podem ser pontuadas: o processo histórico de negação das identidades indígenas, a etnofagia estatal como lógica de integração da pluralidade numa única perspectiva, o caráter “uninacional e monocultural do Estado-nação” e o racismo epistêmico que não reconhece os povos originários como plenamente capazes para pensar e produzir conhecimentos. Não obstante, o atual projeto do governo federal acirra ainda mais os pontos apresentados.

“Com a chegada de Lula ao poder, e agora com Dilma, o desenvolvimentismo mais uma vez é adotado como forma de alçar o Brasil ao topo do capitalismo. O Estado, portanto, parte rumo ao interior do país com megaprojetos. Tal postura tem promovido a desterritorialização das populações tradicionais, sobretudo os povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais”, declara Feitosa.

As flechas indígenas, conforme a análise, estão apontadas para os invasores dos seus territórios, mas também apontam um outro caminho que questiona a retórica de um Estado único, em detrimento das várias nações presentes no país e do próprio caráter plurinacional conferido por elas em contraponto ao Estado.

A XX Assembleia do Cimi acontece até a próxima sexta, 8.

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