Os fatos: Sábado, 26 de outubro, foi uma tarde terrível para a família Tzul Tzul. Desde cedo correu o rumor pela aldeia Paqui, do departamento de Totonicapán, que uma das filhas de Don Delfino Tzul e Dona Blanca Rosa Tzul, tinha sido assassinada e que logo chegaria seu cadáver. Fizeram-se ligações telefônicas a familiares e amigos da família sobre o fato, os quais solidariamente foram perguntar aos Tzul Tzul, aprofundando a confusão e dando lugar à sua generalização.
Esta ameaça, este esforço para nos intimidar é comum na Guatemala, infelizmente. Por que ameaçam as irmãs Tzul, Gladys e Jovita Tzul Tzul?
Gladys e Jovita Tzul são duas mulheres jovens, comprometidas com sua comunidade, profissionais e estudiosas capazes e ativas. Elas, depois do 4 de outubro, como muitos outros jovens e adultos dos Cantones e Aldeias de Totonicapán, choraram e enterraram os mortos do massacre do dia 4 de outubro de 2012. E não somente: elas participaram, colaboraram e contribuíram para gerar, junto com muitos outros, a revitalização do tecido comunitário de Totonicapán. Elas, como muitos outros, converteram a dor em indignação e, a partir sessa força, se dedicaram a diversas iniciativas que contribuem para que o povo conserve sua história, para que se esclareçam coletivamente as ameaças pelas quais atravessam as terras comunitárias e os direitos de todos… Elas são ativistas comprometidas e capazes… São parte ativa de um processo de luta em marcha para além do Massacre de outubro de 2012. Por isso receberam ameaças de morte.
Por outro lado, como parte de sua atividade profissional, no dia 4 de novembro tinham organizado a visita a Totonicapán da Dra. Silvia Federici, Professora emérita da Universidade de Hofra, Nova York, autora de Caliban and the Witch: Women, the Body and Primitive Accumulation e teórica há quatro décadas, da relevância e da centralidade da luta para produzir, cuidar e defender o comum. Silvia Federici iria à Guatemala e a Totonicapán no dia 4 de novembro de 2013 para conversar com mulheres e homens em luta na Guatemala. Esse evento estava despertando um amplo interesse não somente a nível local, mas também na capital e em outro Estados.
As irmãs Tzul Tzul e suas amigas/os e companheiras/os, estavam decididos a produzir um ato e uma deliberação de riqueza e fertilidade para todos. Por isso as vozes de ameaça… por isso se semeou a confusão, como modo de induzir o caos entre as pessoas e atemorizar as famílias.
Isto foi o que aconteceu, isto é o que denunciamos e pedimos a todos que se indignem conosco e nos ajudem para que superemos os efeitos dos que ameaçam, que quase sempre são os mesmos que roubam e matam. Pedimos sua indignação e seu apoio para conseguir em comum dois objetivos:
1. que o ato de 4 de novembro em Totonicapán às 17h não seja suspenso. Nesse ato, uma vez mais, que possamos nos reunir, entre mulheres e homens, para falar sobre o comum: sobre sua produção e seu cuidado. Cuidar coletivamente de nossas criações é a maneira de desativar a eficácia das ameaças destas pessoas e o uso do rumor para desativar nossas atividades comunitárias. Compareça à Sala Comunal dos 48 Cantones de Totonicapán na segunda-feira, dia 4 de novembro próximo, às 17h. Exibiremos a videoconferência de Silvia Federici dirigida especialmente à Guatemala e a nossas lutas coletivas. Também propomos continuar conversando sobre as melhores maneiras de nos apoiarmos e nos protegermos.
2. Apoie-nos para exigir garantias ao governo guatemalteco em geral e ao governador de Totonicapán em particular: nem uma morte mais em Totonicapán! Basta de ameaças! Podemos entre todos proteger as irmãs Tzul Tzul e parar estas ameaças, liberando-nos todos do medo.
Respeitem a vida, Protejam a verdade, expulsem a maldade, sejam honestos e bondosos,obedeçam a sua consciência que os protege e não aos mentirosos que os destrói..
Por caridade Divina, parem de destruir, parem de assassinar. Todo ser vivo tem direito a vida. Se quiser tirar uma vida tire a sua.