Tania Pacheco
Em 20 de janeiro de 2010, a Isto É Independente publicava matéria com o título “A ditadura não acabou“. Nela, era contada a história do filho de dois ativistas de esquerda, Dermi e Darcy Azevedo. Num dia de janeiro de 1974, Darcy deixou o filho de 1 ano e oito meses com a babá e saiu à procura do marido, desaparecido e, na verdade, já preso. Quando os agentes do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops) chegaram, mandaram que os dois ficassem imóveis no sofá, enquanto revistavam a casa. A moça ficou; o menino de 20 meses, não. À primeira bofetada, dada ainda na casa, seguiram-se mais de 15 horas de agonia, durante as quais o menino seria submetido a choques e sevícias, antes de ser liberado e entregue aos avós, já que sua mãe também havia sido presa, poucas horas depois. A reportagem fala de Carlos Augusto então com 37 anos e sérios problemas que o acompanharam durante toda a vida, impedindo-o de levar uma vida social normal, além de o levarem a diversas tentativas de suicídio.
Esta madrugada o pesadelo para ele acabou. O texto abaixo foi escrito por seu pai, o jornalista Dermi Azevedo, e socializado por amigos na internet:
“Meu coração sangra de dor. O meu filho mais velho, Carlos Alexandre Azevedo, suicidou-se na madrugada de hoje, com uma overdose de medicamentos. Com apenas um ano e oito meses de vida, ele foi preso e torturado, em 14 de janeiro de 1974, no DEOPS paulista, pela “equipe” do delegado Sérgio Fleury, onde se encontrava preso com sua mãe. Na mesma data, eu já estava preso no mesmo local. Cacá, como carinhosamente o chamávamos, foi levado depois a São Bernardo do Campo, onde, em plena madrugada, os policiais derrubaram a porta e o jogaram no chão, tendo machucado a cabeça. Nunca mais se recuperou. Como acontece com os crimes da ditadura de 1964/1985, o crime ficou impune. O suicídio é o limite de sua angústia. (mais…)