Girlene Medeiros Do G1 AM
Onze anos após ter sido descoberto, o sítio arqueológico do bairro Nova Cidade, Zona Norte de Manaus, continua interditado e com processo tramitando na Justiça do Amazonas. Quem visita a área encontra urnas funerárias de cerâmica, vestígios do antigo cemitério indígena, abandonadas ao ar livre, sofrendo a ação do tempo.
A área está localizada a 15 km da margem esquerda do Rio Negro, possui 250 mil metros quadrados e é de propriedade da Superintendência Estadual de Habitação (Suhab) do Amazonas. Na época, o Governo do Estado estava construindo as primeiras residências da região.
Segundo a secretaria, um laudo do local, feito por técnicos do curso de Arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), apontaram a inexistência de urnas no local em que foram iniciados os trabalhos de tratamento de solo. Porém, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as urnas funerárias foram descobertas durante os trabalhos de terraplanagem que removeram cerca de um metro de espessura da camada de terra preta do local.
Durante os trabalhos anteriores à construção, 200 vasos funerários foram mapeados pelo Iphan e, atualmente, o órgão informa que não tem autorização para resgatar os vestígios arqueológicos. “O Iphan denunciou ao Ministério Público. Na época, fez os primeiros resgates, mas a situação já saiu da instância do instituto e estamos esperando o retorno da Justiça para poder recuperar a área”, ressaltou a arqueóloga do Iphan, Elen Barros.
Entre as urnas recuperadas, 14 foram exumadas, processo em que se analisa e estuda a peça. A recuperação histórica inclui detalhamento do DNA para mensurar a idade aproximada das peças arqueológicas. As urnas encontradas foram datadas com mais de 700 anos pelo Iphan.
“Ainda tem muito material abandonado. Há ainda marcas de urnas que foram muito degradadas e estão expostas ao sol e à chuva. São marcas de até um metro e meio de diâmetro”, frisou a arqueóloga, indicando que as peças achadas foram encaminhadas para o Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Diante da situação, a área foi cercada e o destino dela depende de uma ação civil pública a ser julgada pela 7ª Vara Federal. A última movimentação do processo é de seis de setembro deste ano e não há previsão para a decisão.
Roubo de peças indígenas
Quando houve a descoberta de vestígios indígenas, em 2001, houve casos de roubos das peças do local. O pedreiro Luis Carlos Serrão trabalhou na construção de diversas residências da época e disse que muita gente tentava vender o que encontrava na área. “Tinha gente que saía com o saco de panela, conchas, canecos, pratos indígenas e até ossos para vender no ‘estrangeiro'”, contou.
Outra preocupação dos populares é a questão da falta de segurança, já que há relatos de crimes ocorridos no local. Para o autônomo Sócrates Paiva, a demora para recuperar a área representa um descaso com a história do Amazonas. “Isso é um absurdo. O local está à mercê dos traficantes e desocupados. Está tudo destruído e estão pisando na nossa história”, lamentou.
http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/09/cemiterio-indigena-de-700-anos-esta-abandonado-ha-uma-decada-no-am.html
“Bendita a hora em que essas famílias tiveram a clareza necessária de preservar importantes exemplares pré-históricos achados em suas propriedades rurais”, desabafa a historiadora Cláudia Marinho, uma das responsáveis pela exposição. A iniciativa de construir o museu no município partiu de uma parceria entre o Instituto Estadual de Florestas e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que mantém um pólo de extração de calcário no município. Um terreno da Reserva Ecológica de Corumbá em Arcos foi escolhido para reunir as cerca de cem peças arrecadadas entre os moradores, todas encontradas na região. Trata-se de um acervo de dar inveja a qualquer Indiana Jones: vasos de cerâmica feitos pelos índios, utensílios domésticos de pedra polida, ossos de animais fossilizados e até urnas funerárias onde eram enterradas as pessoas, em posição fetal.