Em 1963, o Brasil foi formalmente denunciado na Organização dos Estados Americanos (OEA), por genocídio. Naquele ano, no estado de Rondônia, milhares de índios Cinta larga foram vítimas da ganância do homem branco, protagonizando um dos episódios mais tristes e cruéis da história brasileira.
De olho nas riquezas das terras indígenas, como diamante e madeira, garimpeiros dizimaram os índios da região de forma implacável: primeiro sobrevoaram as aldeias jogando açúcar misturado com arsênico. Os índios, na curiosidade de saber o que era aquele pó branco que caia do céu, levavam à boca o alimento doce e mortal. Em seguida, vieram mais aviões, despejando dinamite sobre as construções de palha.
Por terra, índios que já agonizam pelo envenenamento, eram cercados pelos madeireiros, que a tiros abatiam os que ainda tentavam fugir. Para as mulheres era destinada uma maldição extra, o estupro. Muitas índias grávidas foram posteriormente encontradas num cenário que ultrapassava todos os limites do terror: elas eram amarradas pelos pés, penduradas de cabeça pra baixo e tinham seus bebês extraídos de seu ventre a golpes de facão.
Passadas quatro décadas, um novo massacre indígena ocupa as páginas dos jornais. Dessa vez, as vítimas foram os índios Ianomâmis que vivem na fronteira do Brasil com a Venezuela. Um grupo com aproximadamente 80 indígenas foi brutalmente assassinado por garimpeiros e madeireiros. Nada mudou. Os estupros e os golpes de facão se repetiram. A ganância é a mesma.
Infelizmente esses massacres não são únicos e muito menos um fato isolado. Também existiram muitos outros, como o “Massacre de Haximu” em Roraima e o “massacre do Capacete” no Amazonas, entre outros. Também tivemos o “Massacre de Corumbiara”, em Rondônia, envolvendo trabalhadores rurais.
Os governos do Brasil e da Venezuela devem muitas explicações. Mais do que isso. Devem, acima de tudo, dignidade e proteção aos seus povos indígenas. A existência desses massacres é a prova cabal da incompetência e da displicência desses governos em promover a justiça social e resguardar a vida das suas populações tradicionais.
Um país que almeja ser a sede das Olímpiadas e da Copa do Mundo, não pode se apresentar como a terra dos massacres. Um país que almeja o aplauso da comunidade internacional não pode ser um retrato mal acabado da intolerância e do desrespeito à vida. Vergonhoso.
PS: ano passado apresentei um série no Canal Futura chamada Ecos do Brasil. Num dos episódios, abordei o massacre dos índios Cinta larga, que ficou internacionalmente conhecido como o “Massacre do Paralelo 11”. Confiram um trecho:
http://blogs.estadao.com.br/dener-giovanini/a-historia-se-repete-burramente-se-repete/
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