Canadá é repreendido por condições degradantes de indígenas

O Canadá foi repreendido pela ONU após as revelações sobre as condições de vida degradantes de uma comunidade indígena no norte do país conhecida como Attawapiskat.

“A situação social e econômica de Attawapiskat é a mesma de muitas comunidades de Primeiras Nações (indígenas) que vivem em reservas no Canadá, e provavelmente as mesmas do terceiro mundo”, declarou o relator especial da ONU sobre Direitos Indígenas, James Anaya, em carta enviada nesta semana ao governo canadense.

Attawapiskat é um pequeno povoado de 1,8 mil pessoas ao norte de Ontário. Nas últimas semanas, a comunidade dominou as manchetes dos jornais canadenses com os apelos de ajuda feitos pelos líderes indígenas à dramática situação local.

Muitas casas desse vilarejo não possuem água corrente nem saneamento básico, algumas não têm isolamento térmico nem janelas, mesmo com temperaturas de 30 graus abaixo de zero no inverno. Além disso, muitas crianças sofrem com infecções relacionadas à insalubridade. Alguns moradores vivem em barracas por falta de casas adequadas.

No final de novembro, a líder de Attawapiskat, Theresa Spence, decretou estado de emergência na comunidade e solicitou ajuda à Cruz Vermelha para a chegada do inverno.

A Cruz Vermelha contribuiu distribuindo cobertores, geradores de energia e banheiros químicos. Esta foi a primeira vez que a organização humanitária se viu obrigada a intervir em uma crise não relacionada a desastre natural no Canadá.

Attawapiskat passou da noite para o dia, do absoluto anonimato às capas dos jornais e tornou-se um problema para a imagem do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, especialmente após o chefe de governo enviar um contador à comunidade como resposta à crise.

Isso porque, enquanto Theresa e os partidos de oposição exigem de Harper uma solução imediata para atenuar o problema com a chegada iminente do inverno, o governo preferiu enviar um contador para estudar as contas de Attawapiskat, acusando a comunidade de má gestão dos fundos públicos.

A decisão do premiê de questionar os líderes indígenas piorou o contexto, especialmente porque, segundo Anaya, o que acontece em Attawapiskat não é novidade para as mais de 600 comunidades indígenas do país. “As comunidades aborígenes enfrentam taxas de pobreza muito maiores (do que o resto dos canadenses)”, declarou.

“Vou acompanhar de perto a situação em Attawapiskat e em outras comunidades indígenas do Canadá”, advertiu Anaya, que é professor de Direitos Humanos e Política da Universidade do Arizona (EUA).

A resposta das autoridades de Ottawa foi acusar Anaya de “falta de credibilidade” e classificar a carta do relator da ONU como um “golpe publicitário”.

Anaya, porém, não foi o único a qualificar a comunidade como “terceiro mundo”. Líderes das legendas opositoras Novo Partido Democrático (NPD) e Partido Liberal (PL) fizeram comentários similares após visitarem o povoado. Mas nem Harper nem seu ministro de Assuntos Indígenas, John Duncan, viajaram a Attawapiskat para ver a situação com seus próprios olhos.

Um especialista em comunidades indígenas canadenses disse à Agência Efe que a displicência do governo com o quadro deplorável de vida dos indígenas é o maior problema.

“Muitos funcionários do Ministério de Assuntos Indígenas não sabem em que condições estão as comunidades”, afirmou o especialista, que pediu anonimato pois trabalha para o governo canadense em assuntos indígenas.

“Da mesma forma, a maioria dos canadenses não sabe que o apartheid sul-africano foi inspirado no sistema de reservas do Canadá”, acrescentou o funcionário do governo.

http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5529378-EI294,00-Canada+e+repreendido+por+condicoes+degradantes+de+indigenas.html

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