Há 49 lideranças agrárias na lista de pistoleiros, segundo CPT, mas Nilcilene Miguel de Lima e Antônio Vasconcelos estão em situação mais crítica
Elaíze Farias
Ameaçadas por pistoleiros a mando de madeireiros e fazendeiros ilegais, duas lideranças camponesas do Amazonas perderão no próximo mês o direito à proteção de soldados da Força Nacional de Segurança Pública.
Nilcilene Miguel de Lima, do Projeto de Assentamento Florestal Gedeão, e Antônio Vasconcelos, da Reserva Extrativista Ituxi, na região do município de Lábrea (610 quilômetros de Manaus), estão sob escolta policial desde outubro deste ano por decisão da Secretaria Nacional de Direitos Humanos. A proteção porém, será encerrada em janeiro e esta situação preocupa a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O receio da coordenação regional da CPT é que ambos fiquem desamparados e virem alvo fácil de pistoleiros que, segundo denúncia da entidade, sequer temem os soldados da Força Nacional.
Conforme Marta Valéria Cunha, coordenadora regional da CPT, o acordo inicial com a SNDH era de que o governo do Amazonas é que assumiria a proteção policial das duas lideranças e de outras, caso houvesse necessidade. Mas, até o momento, ainda não houve sinalização por parte da Secretaria de Segurança Pública (SSP) na execução do planejamento.
“Mais do que nunca será necessário essa proteção, mas o governo estadual continua sem tomar nenhuma providência, sem assumir essa questão”, contou Marta.
Famílias
O temor da CPT e das lideranças não é em vão. Segundo Marta, mesmo com escolta, as lideranças camponesas continuam sendo ameaçadas. “Os fazendeiros e madeireiros ficam mandando recado, dizem que vão matar a família da Nilcilene e do pastor Antônio”, disse.
Conforme dados da CPT, no Amazonas há 49 pessoas na lista de ameaçados de morte. Destes, as situações mais graves são justamente as de Nilcilene e do Pr. Antônio.
Desde outubro eles recebem escolta 24 horas por dia de oito soldados, cada um, em serviço de revezamento. A diária, o hotel e demais custos dos soldados são bancados pelo governo federal.
Fuga
Nilcilene Miguel de Lima havia fugido do PAF Gedeão neste ano, durante o conflito agrário envolvendo camponeses e madeireiros e grileiros do sul do Amazonas. Ela vivia anônima em Manaus, mas sua condição veio à público após o assassinato de Adelino Ramos, líder do PAF Curuquetê, também da região do município de Lábrea, em maio deste ano. Ambos eram amigos.
“Ela estava morando em Manaus mas decidiu voltar. Optou por isto porque entendeu que não poderia fazer o que os bandidos queriam que ela fizesse. Ou seja, se saísse os pistoleiros se sentiram mais fortes para intimidar outras lideranças”, conta Marta.
No PAF Gedeão, onde mora Nilcilene, não existe linha telefônica nem fornecimento de energia elétrica. A última vez em que ela falou com a coordenação da CPT foi na terça-feira (20), quando foi ao município de Nova Califórnia, em Rondônia, fronteira com o Amazonas, e usou um telefônico público.
“Na semana passada ela estava triste porque dois dos soldados pegaram malária e haviam ido embora. Mas agora ela estava mais aliviada porque eles foram substituídos”, contou Marta Valéria.
A situação do Pr. Antônio Vasconcelos também é preocupante. Embora continue com proteção da Força Nacional, Vasconcelos foi orientado a se transferir da Resex Ituxi para a sede de Lábrea. Apenas eventualmente ele retorna para a Resex.
“Ele tem recebido várias ameaças de morte, mesmo com a escolta. A gente soube que os pistoleiros ficam mandando recado, ameaçando a família dele”, disse a coordenadora da CPT.
Nota
A SSP foi procurada e se manifestou por meio de nota oficial. Eis a nota na íntegra:
“A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP/AM) informa que todas as providências cabíveis às polícias do Estado estão sendo tomadas na região, como a investigação das ameaças de morte com a instauração de inquéritos policiais por parte da Polícia Civil e ainda o policiamento ostensivo na área, feito pela Polícia Militar.
No caso específico dos dois líderes citados na reportagem, a SSP informa foi realizado um levantamento das ameaças relatadas por eles, que resultou em prisões de envolvidos e ainda o indiciamento de outros à Justiça.
A SSP ressalta que, aos líderes ameaçados, o Estado oferece o ingresso ao Programa de Proteção a Testemunhas, na qual as pessoas ameaçadas são retiradas do local de conflito”.
http://acritica.uol.com.br/amazonia/Amazonia-Amazonas-Manaus-Camponeses-AM-Forca-Nacional-CPT_0_613738892.html