Diretora teria pedido para jovem alisar e prender o cabelo para entrar no “padrão” da escola
Érica Saboya
A estagiária que denunciou o colégio Anhembi Morumbi por suspeita de racismo, Ester Elisa da Silva Cesário, afirmou que foi retirada do contato com o público desde que sua história foi divulgada pela imprensa. Ela foi contratada há um mês para atender pais de alunos na área de marketing e, desde segunda-feira (5), a escola a teria transferido para lidar com arquivos. Ester contou que sente um clima de rejeição por parte dos colegas.
– Tenho ido trabalhar, mas sinto uma reação de nojo das pessoas. Ninguém conversa mais comigo no colégio e às vezes me sinto inferior, me sinto sozinha. Agora estou lutando para resgatar minha dignidade.
O colégio explicou que trocou a estagiária de função para preservá-la, uma vez que a divulgação da história a deixou muito exposta e as pessoas podem constrangê-la com perguntas. No entanto, a instituição garante que a mantém no setor para o qual foi contratada.
Ester registrou um boletim de ocorrência contra o colégio alegando que foi vítima de preconceito depois que a diretora solicitou que ela alisasse e prendesse o cabelo para ir trabalhar. De acordo com ela, foi alegado que cabelo crespo não é o padrão do colégio. A diretora ainda teria dito que tinha os cabelos crespos, mas os alisou para manter a boa aparência exigida na empresa.
De acordo com o advogado de Ester, Cleyton Wenceslau Borges, outra demonstração de preconceito por parte da escola foi o pedido para que a estagiária usasse camisetas mais largas para esconder os quadris. Ele alega que essa característica física é típica da raça negra e não há por que escondê-la.
– O conjunto das ações demonstra que o colégio considera que há uma hierarquia nos padrões estéticos. Tudo isso começou a afetar a liberdade e dignidade da Ester como mulher, como negra.
Borges afirmou ainda que se reuniu com membros do departamento jurídico da escola para pedir reparação pelos danos causados a Ester, que começou a ser atendida por uma psicóloga. Outras exigências do advogado são que o colégio promova ações afirmativas e cumpra a lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino sobre história e cultura Afro-Brasileira. Ele disse que até a tarde desta quinta-feira (8) não havia recebido uma resposta.
O Colégio Internacional Anhembi Morumbi divulgou uma nota na qual nega que a escola tenha discriminado a estagiária. A instituição diz lamentar que as instruções sobre vestuário “elaboradas com base em critérios puramente utilitários tenham sido interpretadas de forma equivocada”. De acordo com a nota, a estagiária não será demitida em decorrência dessa questão.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/apos-suspeita-de-racismo-colegio-tira-estagiaria-de-contato-com-o-publico-20111208.html