A ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas da Promoção de Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR), Luiza Bairros, foi uma das palestrantes do 1º Encontro Nacional da luta contra o Racismo, promovido pelo PCdoB e encerrado neste domingo (4).
Por Christiane Marcondes*
A ministra abriu a pauta de discussão do primeiro dia, neste sábado (3), destacando a importância da formulação de uma plataforma de compromissos que direcione ações mais certeiras na realidade.
Disse também que, aos três eixos principais do seminário, agregaria mais um: “Que os movimentos sociais criem um conhecimento próprio, com base na sua experiência”.
Segundo Bairros, “o combate ao racismo no Brasil surge do movimento organizado, que precisa definir e levar suas demandas à academia, ao parlamento, ao executivo”.
Acrescentou que a forma de atuar e enxergar a sociedade nasce na luta do povo e só depois é legitimada pelos espaços de poder: “Negro como sujeito do conhecimento é um fenômeno recente no Brasil, fruto da ação dos movimentos”, ponderou.
Explicou ainda que os partidos políticos reproduzem as hierarquias sociais e raciais da sociedade, ainda que não reconheçam ou admitam. “Por isso precisam se colocar à frente da sociedade e deixar de reproduzi-la, como faz hoje”.
Projeto Nacional de desenvolvimento
Para alinhar as premissas do Projeto Nacional de Desenvolvimento, reuniram-se à mesa Adalberto Monteiro, Angela Cintra, Benedito Cintra e Renato Meirelles, no segundo debate do dia.
A primeira constatação, apresentada por Renato Meirelles com base em pesquisa da agência Data Popular, foi a de que, com a ascensão da nova classe média, a renda dos negros cresceu 112% desde 2002.
Os debatedores concordaram que o desenvolvimento da nova classe media favoreceu a diminuição das desigualdades sociais da população negra, mas não em função de políticas específicas com esse fim. Foi a própria redistribuição de renda que impactou a base da pirâmide formada majoritariamente pelos negros.
Ainda de acordo com a pesquisa Data Popular, a nova classe média é predominantemente jovem, formada por mulheres e negros, e a população negra é mais otimista que a não-negra: 67,6% da primeira acham que sua renda irá melhorar, contra 60,5% da segunda.
Ainda de acordo com a mesma pesquisa, aumentou o número de negros que se assumem como negros e pardos e, pela primeira vez na história republicana do pais, a população não branca supera a branca.
A população negra é predominantemente jovem: 68,5% têm até 40 anos. Na sociedade de consumo, esse grupo movimenta R$ 673 bilhões por ano.
Mercado de trabalho
O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, abriu o segundo debate no primeiro dia, destacando a conquista que representou a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Estatuto da Igualdade Racial. Avanço civilizacional, enfatizou, que não diz respeito apenas à população negra, mas a todo o povo brasileiro.
“A superação do racismo é uma luta estratégica no Brasil. Requer um esforço de superação de toda a sociedade. Não é possível, nos moldes da sociedade capitalista, vencer o preconceito, o racismo, o machismo, a intolerância. Por isso, para nós, comunistas, a luta contra o racismo visa nos aproximar dos nossos objetivos maiores”, alertou Rabelo.
O presidente do PCdoB fez uma análise de cenário e considerou que estamos empreendendo uma luta contra o racismo num mundo em transição.
“Há uma mudança de establishment brasileiro e todas as ideias mais atrasadas começam a ser combatidas. Se há um avanço objetivo na base material da sociedade, haverá avanço também no campo subjetivo”, assinalou.
Rabelo apontou os fundamentos que alentam a luta contra o racismo: o primeiro é a soberania nacional; o segundo é a democratização da sociedade.
“É aqui que reside a luta contra o racismo, na conquista de mais direitos para o povo na educação, saúde e moradia. Ao avançarmos nesse caminho, estaremos contribuindo diretamente com a luta contra o racismo, já que os que hoje estão excluídos do acesso a esses direitos são os pobres e, em especial, os negros. O projeto de governo conduzido por Dilma tem garantido acesso mais democrático a esses direitos por parte da população. O que precisamos fazer agora é encontrar canais de avanços no campo da subjetividade. Temos o Estatuto da Igualdade Racial, que é uma vitória importantíssima, mas corre o risco de virar ‘letra morta’, se não for legitimado com nossa luta.”
O combate contra o racismo, concluiu Rabelo, atinge hoje dimensões mais amplas, tem que combater a desigualdade no mercado de trabalho – que é imoral – e abarcar também o progresso social, a integração continental e a defesa do meio ambiente.
O evento prosseguiu neste domingo (4), com novas mesas de debate e novas etapas de deliberações.
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