Duas novas tentativas de homicídio – uma contra um pai de santo e a outra contra um membro da religião afro – foram registradas pela Comunidade Tradicional de Terreiro da Cidade de Manaus, como mais dois casos de violência atribuída à intolerância religiosa e homofobia em Manaus. Com esses, sobe para sete o número de ataques a pais de santo e frequentadores de terreiros na cidade nos últimos quatro meses.
“Foram três homicídios e três tentativas, além de um assalto à mão armada. Isso é preocupante, tanto que já estamos levando a situação ao conhecimento do Alto Comissariado da ONU”, explicou o coordenador geral da Carma (Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africanda e Ameríndia), Alberto Jorge da Silva.
Segundo ele, os povos de terreiros agem em rede nacional e, atualmente, três grandes organizações ligadas ao Povo de Terreiro mantêm em Brasília diálogo com o Senado e a Câmara Federal, solicitando da Comissão de Direitos Humanos do Senado a realização de uma audiência pública em caráter de urgência para analisar a situação. “Queremos pedir providências efetivas, levando em conta que no Estado nada ainda foi feito em relação aos casos”, afirmou Alberto Jorge, ressaltando que a comunidade está receosa pela vida das pessoas envolvidas, principalmente nos dois últimos casos em que os seus agressores estão soltos.
Em ambas as situações, as vítimas foram atacadas a facadas. No último dia 10 de julho, o cozinheiro e pai de santo José Josivan Brito dos Santos, 41, estava em casa, na comunidade Nova Vitória, Zona Leste, e foi chamado para “espiar” uma briga que estaria ocorrendo numa rua próxima. Ao chegar ao local, percebeu que o motivo da discussão era o seu terreiro.
“Quando cheguei, o agressor foi logo dizendo que macumbeiro e viado tinha que morrer e ainda ameaçou tocar fogo na minha casa”, contou Josivan, que reside há sete anos na rua Salvador. Alertado pelos vizinhos sobre a intenção do agressor de matá-lo, ele conta que tentou sair do local mas foi atingido por dois dos sete golpes de faca desferidos pelo agressor. Uma facada lhe acertou as costas e a outra o cotovelo. “Cai no chão ainda sangrando e meus vizinhos, revoltados, chegaram a bater nele e jogá-lo dentro do igarapé”, afirmou. O agressor, no entanto, continua solto e morando na área.