Movimentos repudiam repressão contra 700 famílias sem teto em Jujuy

Camila Queiroz, Jornalista da ADITAL

Às 6 horas da manhã de ontem (28), cerca de 700 famílias sem teto que ocupavam um terreno no departamento argentino de Libertador General San Martin, província de Jujuy, foram desalojadas violentamente. A polícia utilizou balas e gás lacrimogêneo, matando os sem teto Félix Reyes e Esteban Mendez, além de um policial. Cerca de trinta pessoas ficaram feridas, inclusive mulheres e crianças – duas em estado grave. Até o momento foram registradas quatro mortes.

Para expressar repúdio ao fato, movimentos realizaram manifestação hoje pela manhã, em frente ao obelisco, em Buenos Aires. Participaram Corrente Classista e Combativa (CCC), que organizava as famílias, Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), Confederação Nacional de Docentes Universitários (Conadu Histórica), Associação Gremial Docente da Universidade de Buenos Aires (AGD-UBA) e Associação em Defesa da Liberdade e dos Direitos do Povo (Liberpueblo). As organizações exigiram investigação e sanções para os culpados pelos crimes.

As famílias ocupavam há uma semana um terreno de 15 hectares, pertencente à empresa Ledesma S.A., principal proprietário de terra do lugar, detendo 157.556 hectares. Segundo comunicado da organização Tupaj Katari, os sem teto negociavam o terreno há cinco anos e resolveram ocupá-lo porque a intendência do departamento de Libertador General San Martin e o empresário Blaquier, da empresa Ledesma, descumpriram acordo de cessão das terras.

A ordem de desalojamento foi expedida pela juíza Peres Rojas às seis horas da manhã, e a polícia começou a agir quando as famílias ainda dormiam. De acordo com Tapaj Katari, foram quatro horas de repressão.

Três horas depois do desalojamento, haveria uma reunião para chegar a um consenso sobre as terras, da qual participariam as famílias, município e diretores da empresa Ledesma S.A.

A Corrente de Organizações de Base (COB) La Brecha, também em comunicado, denuncia que tiros foram disparados contra as barracas, causando incêndios e ferindo, com balas, bebês e crianças.

Além das 700 famílias sem teto, moradores de outros bairros também sofreram repressão, pois saíram às ruas para protestar contra a truculência da polícia e apoiar a ocupação. Segundo a COB, cálculos demonstram que apenas 40 hectares de terra seriam suficientes para resolver o problema da moradia no departamento.

Histórico repressor

De acordo com os movimentos sociais, a empresa Ledesma, controlada pela família Blaquier, apresenta longo histórico de repressão aos trabalhadores e comunidade, desde o final do século XIX, quando se instalaram no local.

De início, matavam os trabalhadores dos engenhos de cana de açúcar quando ousavam protestar contra as condições de trabalho. Durante a ditadura militar (1976-1983), a família foi autora da “noite do apagão”, quando delegados de base foram mortos. Atualmente, continuam explorando os trabalhadores, contaminam o povo e concentram terras.

http://www.adital.com.br/jovem/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=58833

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